Casa de Cultura Mario Quintana conclui recuperação após enchentes de 2024

A CCMQ * (Casa de Cultura Mario Quintana), realizou nesta quinta-feira (20) o evento “Memória das Águas”, que celebrou a recuperação integral da CCMQ e da Cinemateca Paulo Amorim **. A recuperação ocorre nove meses após as enchentes de maio de 2024, que atingiram o tradicional prédio da Instituição.

A recuperação ocorria desde o dia 21 de maio. O espaço passou por drenagem, limpeza, pintura, reparos elétricos, de redes hidrossanitárias e outros.

As obras receberam investimento total de R$ 3,4 milhões. A divisão do valor total se deu da seguinte forma:

• R$ 2,7 milhões (R$ 350 mil exclusivamente para a Cinemateca e o restante para a Casa) vieram do Programa Banrisul Reconstruir RS;
• R$ 245 mil para a Cinemateca via edital, apresentado pela prefeitura, da Lei Paulo Gustavo; e
• R$ 450 mil de um convênio entre a Sedac e o MinC (Ministério da Cultura).

Linha simbólica

Civilização e natureza

A solenidade teve a inauguração da linha simbólica demarcando a antiga margem do Guaíba. Instalada na Travessa Rua dos Cataventos, a linha mostra o limite até onde as águas do lago chegavam antes do aterramento da área, no século XIX.

O objetivo da marcação é trazer uma reflexão sobre processos de urbanização e a relação entre civilização e natureza. 

Intervenção humana

A diretora da CCMQ, Germana Konrath, argumenta que linha demonstra que a cheia de 2024 não foi uma “invasão” da água. Ao contrário, tratou-se de um retorno dela ao seu espaço original, antes da intervenção humana.

Segundo ela, os aterros sucessivos, típicos da segunda metade do século XIX e ao longo do século XX, faziam parte de um movimento global, seguindo um modelo de urbanização. Porto Alegre e outros municípios litorâneos e portuários passaram por esse processo, visto como uma forma de progresso.

O evento climático de 2024, que atingiu todo o Estado, é visto pela diretora como um reflexo do agravamento das mudanças climáticas.

Contestação da cota de inundação

Além disso, a linha pretende estabelecer um contraponto à marcação da cota de inundação, acrescentada durante o ano passado à fachada do edifício. Neste caso, a marcação chegou a mais de 1,5m de altura junto à rua Sete de Setembro.

A diretora pontuou que esse ato expõe o contínuo avanço da cidade sobre o Guaíba no momento em que se discute o avanço das águas sobre a cidade.

“A marcação é sutil, como um índice a resgatar os dados e limites territoriais da cidade, que os mapas históricos de Porto Alegre, que embasaram essa marcação, não nos deixam esquecer”, finalizou ela.

Última sala ainda em reforma

O encontro marcou também a reabertura da Sala Norberto Lubisco. Esta era a única sala da Cinemateca Paulo Amorim que permanecia em reforma após os danos causados pela inundação.

Com a modernização, a sala agora conta com novas poltronas dispostas em patamares para melhorar a experiência do público. Há também equipamentos de som e projeção renovados, reforço no isolamento acústico e recuperação completa da parte elétrica.

O banheiro e o ambiente da recepção do espaço passaram por reformas e receberam nova pintura, um cuidado que também se estendeu à sala de projeção. Além disso, o sistema de ar-condicionado foi higienizado, e os carpetes do piso, escadas e paredes foram substituídos.

Peça higienizada

A maquete tátil do edifício da CCMQ, voltada para pessoas com deficiência visual, danificada pela enchente, retornou como peça expositiva de memória na ala Oeste do prédio, protegida por uma estrutura de acrílico.

A peça, inaugurada em setembro de 2023, passou por um cuidadoso processo de higienização feito pelo setor de restauração do Margs* (Museu de Arte do Rio Grande do Sul), no qual se preservaram as marcas deixadas pela água, como um testemunho histórico. Paralelamente, uma nova maquete tátil já foi instalada na ala Leste e está disponível para uso do público.

*Instituições da Sedac (Secretaria de Estado da Cultura)

** Vinculada ao Iecine (Instituto Estadual de Cinema)

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