Lula escolheu Gleisi porque está vendo: “Quem não debandou vai debandar”, avalia Centrão

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou as discussões da reforma ministerial para melhorar a relação do governo com sua base aliada no Congresso. A princípio, havia expectativa entre os interlocutores palacianos de que a mudança de ministros, após a eleição dos novos presidentes da Câmara e do Senado, iria desanuviar o clima e garantir um 2025 bem menos tenso na relação com o Centrão. Mas esse quadro mudou diante da queda vertiginosa de popularidade do governo, e prova disso foi a escolha de Gleisi Hoffmann (PT) para a Secretaria de Relações Institucionais (SRI).

O diagnóstico traçado nas pesquisas neste início de ano deixou claro: Lula e seu governo não estão bem. Consequentemente, a conversa com o Centrão – grupo político sem coloração partidária, que sempre ocupa ministérios, independentemente de quem está no comando do Planalto – ganhou outro rumo e limitou as opções do petista. Lula escolheu Gleisi porque está vendo “quem não debandou ainda vai debandar”.

Essa conclusão circula entre as principais lideranças do Centrão. A Coluna do Estadão, do jornal O Estado de S. Paulo, conversou com líderes e ex-líderes partidários, além de ex-ministros que trabalharam em gestões petistas. A avaliação predominante é de que restou ao presidente apostar em quem está fiel ao seu lado, e essa garantia partidária, no momento, ele só encontra no PT.

Como o nome é do próprio partido, Lula ficou com a mais aguerrida das petistas. Gleisi reflete o lado mais radical da polarização política no País e tem engajamento nas redes sociais, duas características que interessam ao governo neste momento de queda.

Por outro lado, a ex-presidente do PT é deputada e foi senadora, conhece os trâmites de Câmara e Senado e sabe como dialogar com os pares. Na SRI ela terá poder para tratar das emendas parlamentares e de indicações de cargos de segundo e terceiro escalões. Na leitura petista, deixar esse comando nas mãos de alguém cujo partido pode pular do barco do governo em 2026 seria algo como entregar a chave do galinheiro à raposa.

Embora nenhum partido tenha formalizado que vai deixar o governo Lula, os gestos de abandono já começaram. Siglas como União Brasil e PSD têm nomes de pré-candidatos presidenciais — o governador Ronaldo Caiado (GO) começando a circular pelo Brasil e o governador Ratinho Júnior (PR) sempre mencionado pelo presidente de seu partido, Gilberto Kassab.

O MDB faz movimentos menos contundentes mas já expôs que acredita numa candidatura de centro e também não nega que está de mãos dadas com Tarcísio de Freitas (Republicanos) em 2026. A questão é saber se o governador de São Paulo disputará a reeleição ou tentará a Presidência da República.

Também com cargos na Esplanada dos Ministérios, o Republicanos de Tarcísio e o PP do senador Ciro Nogueira são siglas com têm expoentes oposicionistas.

Fato é que, apesar de grandes articuladores do Centrão não acreditarem que haja tempo suficiente para Lula mudar a avaliação negativa de seu governo, ainda falta uma candidatura consolidada na oposição. Esses mesmos líderes ressaltam: Lula é um animal político e mantém as chances de reeleição, principalmente se não tiver um adversário forte fora da polarização. O prazo que eles apontam para enxergar melhor o cenário é dezembro deste ano. Pelo menos até lá, os partidos vão manter um pé dentro e outro fora da canoa.

(Roseann Kennedy/Estadão Conteúdo)

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