Gleisi Hoffmann “estreia” buscando o Centrão e esfriando ânimos no PT

Após se reunir com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e líderes de partidos de esquerda e de centro em seu primeiro dia no cargo, a ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) teve um encontro nessa quarta-feira (12) com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Além da agenda do governo no Congresso, em que a prioridade é aprovar a isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil por mês, Gleisi vem tratando com os parlamentares sobre os próximos passos da reforma ministerial, que poderá contemplar mais espaço para o Centrão.

Também estão previstos encontros de Gleisi para tratar do Orçamento, que deve ser votado semana que vem no Congresso. Ela vai receber no Planalto, em diferentes momentos, o presidente da Comissão Mista de Orçamento, deputado Julio Arcoverde (PP-PI), e, mais tarde, o relator do Orçamento, senador Angelo Coronel (PSD-BA).

Na estreia no cargo, Gleisi se dividiu na terça (11) entre a tentativa de quebrar a resistência de líderes do Centrão ao seu nome e a busca por uma solução para a crise interna do PT em seu primeiro dia à frente da articulação política do governo. Ela recebeu o favorito à sucessão no comando do partido, o ex-prefeito de Araraquara (SP) Edinho Silva, que vem enfrentando resistência da ala majoritária da sigla em uma guerra que se tornou pública nos últimos dias.

Já à noite, diante da ausência dos principais líderes do Centrão na sua posse e de Alexandre Padilha (Saúde), na segunda (10), Gleisi marcou um jantar, o primeiro gesto a parlamentares do grupo, com o objetivo de tentar uma aproximação. Entre os presentes estavam o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e os líderes do MDB, Isnaldo Bulhões (AL), do PSD, Antonio Brito (BA) e do PP, Dr. Luizinho (RJ).

A cúpula desses partidos resistiu à indicação de Gleisi à pasta criticando um “fechamento” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estaria dando uma “guinada à esquerda”. Essas lideranças faltaram a uma reunião marcada pela manhã, quando Gleisi conversou com líderes de partidos de esquerda no Congresso, próximos ao Palácio do Planalto, sobre estratégias para reverter a queda de popularidade do governo Lula.

Racha interno

Um dos motivos para a mobilização de Gleisi é o racha do PT, que virou público com o vazamento de conversas de um encontro ocorrido na quinta-feira, no apartamento da nova ministra. Na reunião, Lula foi pressionado a não apoiar Edinho para a presidência do partido. De acordo com os relatos, revelados pelo colunista Lauro Jardim, do Jornal O Globo, o grupo disse ao presidente da República que o ex-prefeito não seria eleito por não contar com apoio integral da principal corrente petista, a Construindo um Novo Brasil (CNB), da qual o próprio Edinho faz parte.

Hoje, o PT é comandado pelo senador Humberto Costa (PT-PE), que exerce um mandato-tampão até julho, já que Gleisi, a antecessora, teve que se afastar do cargo para ingressar no governo. Edinho enfrenta resistências também entre outras correntes internas do PT, como a Democracia Socialista (DS).

Na terça, na conversa de Gleisi com Edinho, o objetivo foi esfriar os ânimos. A nova ministra já defendeu um nome do Nordeste para presidir o PT.

Durante a tarde, a CNB divulgou uma nota sobre a reunião da semana passada. No texto, defendeu a necessidade de “unidade partidária”, o que foi lido como um recado para que Edinho trabalhe para vencer as objeções a seu nome. Aliados do postulante, por sua vez, encararam o comunicado como uma trégua.

Edinho é o nome preferido de Lula para a eleição interna marcada para julho. Estiveram no encontro da discórdia os integrantes da CNB que fazem parte da executiva nacional. No mesma ocasião, Humberto Costa foi escolhido para o mandato-tampão.

A corrente admite que houve discussões sobre a sucessão de julho. “Também foram feitas considerações sobre o perfil da futura direção, que seja capaz de conduzir o partido com unidade na defesa do governo Lula e das conquistas para a população, como foi durante toda a presidência de Gleisi Hoffmann”, diz a nota.

No domingo (9), em evento em Matão, no interior de São Paulo, Edinho manifestou a sua insatisfação com o vazamento, o que elevou a temperatura interna do PT. O ex-prefeito disse estar “indignado com o que aconteceu, da forma como aconteceu”.

Já o vice-presidente do PT, Washington Quaquá, um dos integrantes da ala que se opõe à eleição de Edinho, disse à colunista Malu Gaspar, do Globo, que não há apoio de Lula, neste momento, ao nome de Edinho. (O Globo)

Adicionar aos favoritos o Link permanente.