Relatório avalia a influência familiar na desigualdade entre alunos de escolas públicas e particulares no RS

No Rio Grande do Sul, alunos de colégios particulares iniciam a vida escolar proporcionalmente mais cedo e têm menor índice de reprovação que os estudantes de escolas públicas. É o que aponta um relatório divulgado nessa quarta-feira (12) pelo Departamento de Economia e Estatística da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (DEE/SPGG).

O documento também mostra que os estudantes negros ingressam mais tarde na vida escolar e têm mais reprovações que seus colegas brancos. Com o título “Diferenças de Capital Cultural Entre Alunos do RS a Partir de Dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb)”, a análise menciona um conceito de sociologia da educação desenvolvido pelo francês Pierre Bourdieu e que se refere ao legado transmitido pelos pais aos filhos.

Partindo desta ideia, o pesquisador Ricardo César Gadelha de Oliveira Júnior investigou a importância do núcleo doméstico no desempenho escolar de estudantes do 3º ano do Ensino Médio do Rio Grande do Sul. A base para a análise foi o questionário socioeconômico Saeb de 2021.

A fim de comparação, os estudantes foram divididos em três pares: escolas públicas e privadas; áreas urbanas e rurais; e alunos brancos e negros. Analisaram-se então cinco conjuntos de variáveis que caracterizam a vida escolar e familiar dos estudantes, incluindo tópicos como envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos, disponibilidade de equipamentos tecnológicos nas residências dos alunos, práticas cotidianas fora da sala de aula e trajetórias escolares.

Atributos analisados

A prática da leitura pelos pais e a presença de livros, apontada como uma fonte importante de capital cultural, é um dos quesitos observados no material. Dentre os grupos analisados, somente o estrato dos estudantes gaúchos que estão matriculados em colégios privados apresentaram diferença considerável ao responder que os pais leem sempre ou quase sempre: esta foi a resposta de 23% dos estudantes do ensino privado, contra 14% dos alunos de escolas públicas.

O texto também destaca que alunos da rede privada destinam menor tempo às tarefas domésticas, em comparação aos alunos de escolas públicas. Enquanto 17% dos estudantes do primeiro grupo dedicam mais de duas horas à execução de tarefas domésticas, o percentual para alunos da rede pública chega a 36%. Acerca do trabalho remunerado fora do ambiente escolar, 22% dos alunos de escolas privadas dedicam mais de duas horas para a atividade, contra 55% de representantes de escolas públicas.

Sobre a da presença de dispositivos eletrônicos nas residências, estudantes de escolas públicas apresentaram percentuais menores de computadores, tablets e TV por internet. Outros equipamentos, como TV, smartphone e rede wi-fi foram verificados em quase a totalidade dos lares.

Quanto à escolaridade, o estudo do DEE mostrou que o maior percentual de pais com Ensino Superior está concentrado entre alunos da rede privada, enquanto, nas escolas públicas, os pais têm maiores percentuais de escolaridade no Ensino Médio. De forma geral, o estudo apontou as maiores disparidades entre os estudantes de escolas privadas em relação a seus pares das escolas públicas. Os outros dois grupos analisados, formados por estudantes das áreas urbanas e rurais, e brancos e negros, mostraram diferenças menos acentuadas entre si.

(Marcello Campos)

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