País corre risco de apagões por sobrecarga; geração de energia com painéis solares pode causar blecaute

De acordo com um relatório do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), 11 Estados brasileiros correm o risco de sofrerem com apagão em razão da sobrecarga da rede elétrica por conta do aumento da produção de energia por painéis solares em casas e comércios. O alerta faz parte do Plano de Operação Elétrica de Médio Prazo do Sistema Interligado Nacional (SIN) de 2025 a 2029.

O documento foi divulgado em dezembro de 2024 e alerta para o risco de apagão nos seguintes estados: Bahia, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Roraima e São Paulo.

O relatório “tem como objetivo avaliar o desempenho do SIN, no horizonte de 5 anos, para que a operação futura seja realizada com níveis de segurança adequados, em consonância com os critérios de confiabilidade estabelecidos nos Procedimentos de Rede”.

O documento também destaca que o Brasil produz 33 GW de energia na modalidade Micro e Minigeração Distribuída (MMGD), que é composta majoritariamente por energia solar fotovoltaica em residências e estabelecimentos comerciais.

Com a expansão da modalidade, a estimativa é que a produção chegue em 50 GW até 2029.

“Fluxo reverso”

A energia gerada por painéis solares que não é utilizada nas casas e nos comércios é revertida para o sistema elétrico. O excedente cria uma via de mão dupla gerando risco de sobrecarga.

“Uma das principais conclusões neste cenário de expansão da geração conectada diretamente às redes de distribuição é a necessidade de as distribuidoras ou agregadores assumirem um papel mais ativo, atuando como operadores dos sistemas de distribuição (DSOs) e de forma coordenada com o ONS. Essa atuação é essencial para garantir a eficiência e segurança da operação do SIN em um contexto de crescente descentralização dos recursos de geração”, diz um trecho do relatório.

Ainda, de acordo com o relatório, o estado do Mato Grosso tem 94% das subestações de fronteira com “fluxo reverso” gerado a partir do excedente. Em seguida aparecem os estados do Piauí, com 73%, e Minas Gerais, com 43%.

Após a repercussão da divulgação do relatório, o ONS emitiu uma nota à imprensa destacando que “o Plano da Operação Elétrica de Médio Prazo do SIN (PAR/PEL) não aponta risco iminente de apagão no Brasil”.

“O documento, produzido anualmente, apresenta avaliações do desempenho elétrico do Sistema Interligado Nacional (SIN) num horizonte de cinco anos à frente, de modo que a operação futura ocorra com qualidade e equilíbrio entre segurança e custo”, enfatiza a nota.

Sobre o “fluxo reverso”, o ONS disse que o fenômeno técnico segue sendo mapeado “para garantir a modernização da infraestrutura da rede elétrica”.

“O Sumário Executivo do PAR/PEL sinaliza os possíveis desafios operativos e recomendações para fortalecer o sistema elétrico diante da evolução do setor, incluindo o crescimento da geração distribuída e das fontes renováveis. O papel do ONS é antecipar cenários, avaliar impactos e propor soluções para garantir a confiabilidade e segurança do Sistema Interligado Nacional (SIN)”, diz outro trecho da nota.

Energia solar

Ao comentar a nota do ONS sobre o PAR/PEL, a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) alertou para a existência de “um movimento isolado que vai na contramão da transição energética e tenta prejudicar as fontes renováveis, como solar e eólica”.

“A quem interessa culpar as fontes renováveis por desafios sistêmicos, em ano de COP30 no Brasil? A pronta resposta e esclarecimentos do ONS foram claros e demonstram o compromisso do órgão com a transparência nas informações e o planejamento técnico e profissional de médio e longo prazos, que abraça a necessidade do avanço continuado das fontes renováveis no Brasil”, disse Rodrigo Sauaia, presidente executivo da Absolar, em nota à Gazeta do Povo.

A associação destacou ainda que a geração de energia própria renovável instalada em telhados, fachadas e pequenos terrenos junto aos centros de consumo está presente em apenas 4,9% das unidades consumidoras.

“Ela ajuda a fortalecer e trazer mais resiliência à rede elétrica, ao aproximar a geração de eletricidade dos locais de consumo. Isso reduz a pressão sobre os recursos hídricos e sobre a infraestrutura de transmissão e distribuição, alivia pressões sobre a operação do sistema e diminui perdas em longas distâncias, o que contribui para a confiabilidade e a segurança, inclusive em momentos críticos”, diz outro trecho da nota. (Gazeta do Povo)

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