Aquecimento dos oceanos causará impacto por milênios, afirma a ONU

Os níveis recordes de gases de efeito estufa elevaram as temperaturas a um recorde histórico em 2024, com consequências alarmantes para os oceanos que poderão durar milênios, de acordo com cientistas e a Organização Meteorológica Mundial (OMM), órgão vinculado às Nações Unidas (ONU).

As temperaturas médias anuais ficaram 1,55 grau Celsius (ºC) acima dos níveis pré-industriais no ano passado, superando o recorde anterior de 2023 em 0,1ºC, informou a OMM em seu relatório climático anual.

Este aumento acelerou drasticamente a perda de geleiras e gelo marinho, elevando o nível do mar e aproximando o mundo do limite de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris.

Projeções climáticas também indicam que o aquecimento dos oceanos continuará por pelo menos o resto do século XXI, mesmo em cenários de baixas emissões de carbono. Outro dado mais preocupante ainda é que essas mudanças são consideradas irreversíveis em escalas de tempo que vão de séculos a milênios.

E a acidificação dos oceanos também continuará aumentando ao longo do século XXI, em taxas que dependem das futuras emissões. Segundo a ONU, as alterações no pH das águas profundas são especialmente alarmantes, sendo irreversíveis em escalas de tempo centenárias a milenares.

E estimativas preliminares já colocam o atual aumento médio de longo prazo entre 1,34 e 1,41°C, aproximando-se do limite de Paris, mas ainda não o ultrapassando, disse a OMM.

“Um aspecto a ser destacado com muita clareza é que um único ano acima de 1,5 grau não significa que o nível mencionado no Acordo de Paris tenha sido formalmente ultrapassado”, disse John Kennedy, coordenador científico da OMM e principal autor do relatório.

Mas as faixas de incerteza nos dados significam que isso não pode ser descartado, afirmou ele em entrevista. O relatório informa que outros fatores também podem ter impulsionado o aumento da temperatura global no ano passado, incluindo mudanças no ciclo solar, uma erupção vulcânica maciça e uma diminuição nos aerossóis de resfriamento.

Embora um pequeno número de regiões tenha visto as temperaturas caírem, o clima extremo causou estragos em todo o mundo, com secas causando escassez de alimentos e inundações e incêndios florestais forçando o deslocamento de 800 mil pessoas, o maior número desde que os registros começaram em 2008.

O calor dos oceanos também atingiu o nível mais alto já registrado e a taxa de aquecimento está se acelerando, com o aumento das concentrações de CO2 nos oceanos também elevando os níveis de acidificação.

As geleiras e o gelo marinho continuaram a derreter em um ritmo acelerado, o que, por sua vez, elevou o nível do mar a um novo patamar. De 2015 a 2024, o nível do mar aumentou em uma média de 4,7 milímetros por ano, em comparação com 2,1 mm de 1993 a 2002, segundo dados da OMM.

Kennedy também alertou sobre as implicações de longo prazo do derretimento do gelo nas regiões do Ártico e da Antártida.

“As mudanças nessas regiões podem afetar o tipo de circulação geral dos oceanos, que afeta o clima em todo o mundo”, disse ele. “O que acontece nos polos não necessariamente permanece nos polos.”

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