Brincadeira dentro do Ministério das Relações Exteriores vai parar na Polícia Federal

Uma suposta brincadeira entre diplomatas do Ministério das Relações Exteriores acabou virando caso de polícia. O episódio envolveu uma carta contendo o desenho de um pênis com asas e que foi enviada ao chefe da Divisão de Saúde e Segurança do Servidor (DSS), Cristiano Ebner. A informação foi divulgada pela coluna de Lauro Jardim, do portal O Globo.

A correspondência foi entregue em junho de 2024, por meio dos serviços internos do Itamaraty, e trazia como remetente a fictícia “Fundação Kresus”, uma referência à mitologia grega. Inicialmente, Ebner considerou o conteúdo uma ameaça, por atuar em função que envolve perícias médicas e exames admissionais – procedimentos que podem impactar a carreira de servidores e gerar descontentamentos internos.

Diante disso, ele relatou o caso à sua chefe direta, a embaixadora Daniella Ortega, que o orientou a buscar a Polícia Federal (PF). Com isso, foi iniciada uma investigação para identificar o autor da correspondência.

Responsabilização

As primeiras diligências da PF analisaram imagens de câmeras de monitoramento do Ministério, permitindo a identificação do autor. No entanto, Cristiano Ebner não reconheceu o indivíduo, o que levou a polícia a aprofundar a apuração.

A análise do remetente fictício “Fundação Kresus” também levantou suspeitas. Os investigadores apontaram que o nome poderia fazer alusão a Creso, o último rei da Dinastia Mermnada, conhecido por uma trajetória repleta de tragédias. Além disso, especulou-se que o desenho poderia representar um “passaralho”, termo usado para se referir a demissões em massa.

No entanto, cerca de dois meses depois, Cristiano recebeu um telefonema do ministro-conselheiro Pablo Cardoso, que trabalha em Lisboa (Portugal), para tratar de um assunto “delicado”.

Conforme o relato de Ebner, Cardoso confessou ser o autor da correspondência, pedindo desculpas pela “atitude infantil”. O diplomata também demonstrou preocupação com o amigo para quem havia pedido o envio da carta, já que este havia sido intimado a depor pela PF.

Além de se desculpar, Cardoso sugeriu que Cristiano desistisse da representação, mas o chefe da DSS optou por prosseguir com o caso. Ele relatou à PF ter se sentido ameaçado pela ofensa, “detalhadamente planejada”, e defendeu a punição do responsável, especialmente por se tratar de um servidor público.

Assédio e quebra de decoro

Cristiano classificou a conduta do ministro-conselheiro como “indecorosa, antiética e preconceituosa”, apontando que a situação envolvia um hierarquicamente superior sem “justificativa racional”.

Ele também destacou que o episódio lhe causou “constrangimento, angústia, temor e ansiedade”, além de considerar que a atitude se enquadrava em assédio moral e quebra de decoro. Como consequência, Pablo Cardoso assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), por meio do qual se comprometeu a manter comportamento compatível com o cargo.

A Corregedoria do Itamaraty não abriu processo administrativo disciplinar. Da mesma forma, a Polícia Federal arquivou a investigação, alegando “falta de elementos para a consumação do delito”.

Conforme Pablo Cardoso, “não há qualquer procedimento em desfavor do servidor tramitando na Corregedoria do MRE”, e que o TAC “vem sendo rigorosamente cumprido desde então”. Também informou que “o procedimento não concluiu pela existência de assédio moral ou quebra de decoro e não acarretou qualquer penalidade disciplinar”. (Com informações dos portais Terra e O Globo)

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