R2 – Um Oficial, Um Cidadão, Uma Missão

Os Oficiais da Reserva não remunerados — conhecidos como Oficiais Temporários ou simplesmente R2 — carregam uma história tão discreta quanto essencial na estrutura das Forças Armadas brasileiras. São formados em Escolas Militares que oferecem uma preparação mais enxuta, sim, mas nunca menos significativa. Estamos sempre prontos para servir, seja em tempos de guerra ou de paz.

Foi assim, aliás, durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1942, o Brasil enviava 1.070 tenentes ao conflito, dos quais 433 eram temporários. Apenas 13 desses retornaram ao solo brasileiro. Um número que pesa — não apenas em estatísticas, mas na memória. Entre esses heróis, o Tenente R2 Apollo Rezk se destacou como o mais condecorado oficial da Força Expedicionária Brasileira, símbolo de bravura em meio ao caos.

Atualmente, o Exército Brasileiro é formado por 75% de militares temporários — soldados, praças e oficiais —, enquanto os 25% restantes são de carreira. A diferença entre eles vai além do tempo de serviço ou estabilidade funcional. Enquanto a carreira ingressa por concurso público, os temporários passam por uma seleção mais flexível, sem direito à reserva remunerada. Ainda assim, seu tempo conta para fins de aposentadoria. Mas o que realmente importa não se mede em anos ou vencimentos.

O que diferencia o Oficial R2 é a entrega, uma vivência intensa, ainda que breve, no seio da caserna. E isso começa cedo — aos 19 anos, com o peito aberto para o desconhecido e a cabeça cheia de dúvidas. Entramos ali sem saber o que nos espera, e saímos de lá com valores que nos acompanham por toda a vida: responsabilidade, lealdade, camaradagem, rusticidade, coragem. E talvez o mais importante: cidadania e amor à pátria.

Para muitos jovens, o Exército é o primeiro contato real com a hierarquia, com o civismo, com a noção de coletividade. A disciplina e o gosto por esportes alguns já trazem de casa, é verdade. Mas o que se molda ali é a psique. A alma é testada, forjada. Aprende a sair da zona de conforto — e nem todos conseguem. Os que ficam são diferentes. Não é melhor, mas transformado.

A repercussão disso na sociedade é profunda. Em tempos de paz, o Oficial da Reserva Oxigena das Forças Armadas com múltiplas formações civis. Ao se desligar da farda, carrega consigo os valores da caserna para onde for. Tornam-se empresários éticos, professores inspiradores, profissionais resilientes. São formadores de opinião com moral elevada, disciplina inabalável e conduta exemplar.

Durante o curso, o físico é trabalhado. Mas é o mental que realmente se fortalece. A resiliência não é uma habilidade extra — é o próprio objetivo. Testa-se o indivíduo, seus limites e sua capacidade de se reerguer. Aprendemos que confiar no companheiro é tão vital quanto confiar em si mesmo. E que, nas horas mais difíceis, é essa irmandade que nos sustenta.

A “Academia do Morro”, como é carinhosamente chamado o CPOR de Porto Alegre, me ensinou muito mais do que táticas militares. Me formei em cidadania. Me fez compreender que ser útil ao país vai muito além de portar uma farda — é carregar, dentro de si, o compromisso com o bem comum.

Trago comigo, até hoje, irmãos de farda que se tornaram parte da minha família. Essa irmandade — forjada no barro, no suor e na disciplina — é uma das maiores dádivas que carrego na vida. Neles encontrei apoio nas alegrias e nas dores. Convivência fraterna que é, por si só, um propósito de vida.

Sou, sim, muito grato ao Exército. Aos instrutores, aos professores, aos companheiros de caminhada. Foram eles que me ajudaram a cumprir — e me ajudam — a missão mais desafiadora e mais bonita de todas: a missão da vida.

(Alexandre Teixeira G. de Castilhos Rodrigues é advogado, escritor, Oficial da Reserva do Exército (CPOR/PA 1990/Infantaria) e diretor social da AOR/2)

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