Cenário “incômodo”: saiba por que o Banco Central projeta inflação fora da meta até 2027

Mesmo com o aumento significativo da taxa Selic, o Banco Central (BC) só enxerga a inflação próxima à meta de 3% em 2027, conforme suas projeções oficiais. No fim deste ano, a autoridade monetária calcula risco de 70% de o índice superar o limite da meta (4,5%) – antes, a possibilidade era de 50%.

Nesse contexto, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, reconheceu que o cenário de curto prazo da economia é mais “incômodo”, com um juro elevado, uma inflação ainda alta e uma atividade que começa a desacelerar.

Na primeira edição do Relatório de Política Monetária, o BC divulgou as estimativas para o IPCA – índice de inflação oficial – até o terceiro trimestre de 2027. Até então, a autoridade monetária só havia atualizado as projeções para 2025 (5,1%) e o terceiro trimestre de 2026 (3,9%), prazo que o BC trabalha atualmente para alcançar a meta.

As estimativas levam em conta as projeções do mercado para a Selic no Boletim Focus, de 15% no fim deste ano e de 12,50% no final de 2026, além da evolução da taxa de câmbio conforme a Paridade do Poder de Compra.

Juro real 

Neste ano, o BC já reconheceu que deve descumprir a meta de inflação no primeiro teste da meta contínua, em junho. Segundo a nova regra, quando o IPCA em 12 meses fica fora do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos, é considerado que houve desobediência à meta.

Nesse caso, Galípolo terá de escrever uma carta ao Ministério da Fazenda explicando os motivos pelos quais o BC falhou em sua missão principal de controle de preços.

Nos primeiros dias de seu mandato à frente da autoridade monetária, ele já teve de se explicar ao seu antigo chefe, o ministro Fernando Haddad, em função do descumprimento da meta de 2024, ainda na gestão de Roberto Campos Neto, quando o IPCA ficou em 4,83%.

A dificuldade de controlar a inflação ocorre em meio a um processo forte de alta de juros. O BC já entregou um aumento de 3,75 pontos percentuais (pp) desde o início do ciclo de aperto monetário, em setembro. A Selic atualmente está em 14,25%, o maior patamar desde outubro de 2016, e o BC já indicou que deve elevar novamente os juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em maio, ainda que em menor magnitude do que os últimos três aumentos, que foram de 1 pp.

Caso a nova alta se confirme, a Selic deve chegar ao maior nível desde 2006, no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“O BC tem consciência de um momento mais incômodo do ponto de vista de indicadores econômicos. Essa combinação de inflação acima da meta, taxa de juros mais contracionista e a atividade começar a desacelerar costuma produzir posição um pouco mais incômoda”, Gabriel Galípolo, presidente do BC

Além disso, o juro real, descontada a inflação, deve chegar ao segundo trimestre deste ano em 9,4%, quase o dobro do patamar neutro (aquele que não restringe nem impulsiona a economia) considerado pelo BC, de 5%.

“Desde dezembro, depois do aumento de 300 base points (3 pontos percentuais), estamos ingressando em um patamar de Selic que é contracionista com alguma segurança, mesmo para quem tem juro neutro mais alto (que o BC)”, disse Galípolo em entrevista coletiva, destacando que a Selic já está agindo para segurar a atividade econômica.

“Tateando”

Segundo Galípolo, com o patamar da Selic elevado, o BC está “tateando” para verificar se a Taxa Selic está em um patamar alto o suficiente para assegurar que as expectativas de inflação dos agentes do mercado possam convergir para a meta no horizonte de 18 meses, considerado para a política monetária.

Além disso, aumentos de juros não têm impacto imediato na economia, portanto o BC acompanha o impacto que os aumentos já efetuados causam na atividade econômica, o patamar da inflação e a “desancoragem” das expectativas, ou seja, o afastamento das previsões em relação à meta fixada. (Com informações do jornal O Globo)

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