
Mesmo com limitações de consumo relacionadas à economia (inflação dos alimentos, alta dos preços do cacau etc) e ao preço já tradicionalmente “proibitivo” dos ovos e coelhos de chocolate, as vendas para a Páscoa (20 de abril) devem ser maiores que as do ano passado no mercado gaúcho. A projeção é da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), sem detalhar números.
Na avaliação da entidade, por mais que haja limitadores importantes para um melhor desempenho comercial em meio à data temática que se aproxima, a forte recuperação do mercado de trabalho gaúcho após a tragédia é um dos principais elementos de suporte a uma perspectiva de vendas maiores em relação a 2024, mesmo que de forma moderada.
“Esperamos que as vendas cresçam, mas o cenário para a data conta com um impulso limitado”, destaca o presidente da entidade, Luiz Carlos Bohn. “Por mais que tenhamos um suporte importante na renda pelo emprego e pelas transferências, por outro lado temos inflação de alimentos tirando poder de compra das famílias, cautela por parte dos consumidores e juros altos além do aumento de preços do próprio chocolate.”
No mercado de trabalho, os dados para o Rio Grande do Sul mostram crescimento da massa real de salários em 9,6% e a queda da taxa de desocupação em 0,7 ponto percentual no último trimestre de 2024 em relação ao final de 2023. No contexto inflacionário, os alimentos mais caros em 7,42% na comparação ao mesmo período do ano anterior pressionam o orçamento familiar, sendo que o chocolate, destaque da data, tem alta ainda mais expressiva (18,5% em 12 meses).
O aumento do preço do cacau no mercado internacional tem pressionado a indústria, que busca alternativas para minimizar o impacto no consumidor. Bohn detalha:
“A alta do custo da matéria-prima impacta diretamente os preços finais dos produtos mais tradicionais da Páscoa, como os ovos de chocolate. Nesse cenário, o consumidor deve se deparar com uma diversidade maior de produtos – em formatos, gramaturas e composição – como estratégia dos fabricantes para mitigar a transferência da alta de preços ao consumidor”.
Pelo lado do crédito, a taxa básica de juros (Selic) mais alta do que um atrás torna ainda mais desafiador o cenário para o crédito das famílias, com acomodação das novas concessões e incerteza sobre a nova modalidade de empréstimo consignado aos empregados do setor privado. Mas a avaliação destaca que, por mais que permaneça elevado o patamar de famílias com contas atrasadas (30% em fevereiro de 2025, de acordo com estatísticas oficiais), mantém-se menor que em igual período no ano passado (37,7%).
Já no item “confiança”, dá-se o contrário, com famílias mais pessimistas que um ano atrás. Evidencia-se um comportamento mais cauteloso dos compradores.
Busca de alternativas
“Sabemos que o consumidor está mais atento aos preços e busca opções que caibam no orçamento. Por isso, os varejistas precisam estar preparados para atender essa demanda com variedade de produtos, estratégia na comunicação e condições diferenciadas ao consumidor mais compatíveis com a estrutura financeira de cada negócio”, ressalta o presidente da Fecomércio-RS.
Recentemente, uma enquete realizada pela Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre junto a 302 consumidores constatou que 56% estão menos interessados em comprar ovos de Páscoa. O principal motivo alegado é o preço do produto, em alta nos últimos anos. Os entrevistados apontam como alternativa recorrer a chocolates comuns, em barra ou bombom, geralmente mais em conta.
(Marcello Campos)