Áreas verdes diminuem em vila devastada no RS; interferência do homem piora desastre, diz pesquisador


Imagens de satélite indicam mais pontos marrons em locais em que vegetação se recuperou após as enchentes de maio.
As áreas verdes diminuíram em Mariante, distrito do município de Venâncio Aires, devastado pela maior enchente da história do Rio Grande do Sul, em maio de 2024. Imagens de satélite mostram que a vegetação conseguiu se recuperar depois da inundação e foi derrubada em seguida para plantio ou criação de animais.
O g1 esteve em Mariante logo após as enchentes atingirem a região, mostrou os impactos das inundações e o sofrimento das pessoas atingidas pela tragédia (relembre aqui). Sete meses depois, série de reportagens mostra a realidade da vila, dividida entre a destruição e o desafio de um novo recomeço.
As fotos são uma composição de imagens representando uma média de cada mês selecionado – nuvens foram eliminadas, mas permaneceram os registros do impacto na superfície.
Os registros foram captados pelo pesquisador e professor Humberto Alves Barbosa, fundador e coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
Imagens de satélite mostram impacto na vegetação de Mariante
LAPIS/Divulgação
A tragédia ocorreu em um período que havia passado o período de colheita, como é possível ver na transição entre março e abril (veja na imagem animada acima). Em maio, tudo virou um mar de lama.
A economia de Mariante é baseada na criação de gado para abastecer os dois frigoríficos que ficam na região, do plantio de milho e de fumo, entre outras produções.
Foram cinco meses até a recuperação da vegetação de Mariante. Outubro é o mês em que é possível ver mais áreas verdes, enquanto surgem os espaços de plantio em novembro, registro mensal mais atual. São visíveis os buracos marrons, que indicam desmatamento.
Plantação na Vila Mariante no fim de novembro de 2024
Fábio Tito/g1
Há aumento nas áreas de plantio também no intervalo de um ano, entre novembro de 2023 e 2024.
“O que chama atenção é como essa comunidade ampliou as áreas de plantio. Dobrou, se não triplicou ou mais, em relação a um ano atrás”, afirma o professor Humberto Alves Barbosa, da Ufal.
Mapa mostra área de risco na Vila Mariante
Arte/g1
Segundo ele, “há uma vulnerabilidade” maior da região para eventos extremos “porque toda a mata ciliar, toda a vegetação ali, tem sido degradada em função desse uso e ocupação do solo”. Segundo ele, nessas circunstâncias, os riscos aumentam durante chuvas ou enchentes.
“Aquela região apresenta uma alta vulnerabilidade em função de como o homem interferiu nesse escoamento, nessa bacia. Porque ali é uma bacia hidrográfica e os afluentes foram sendo impactados ao longo dos anos por essa produção agrícola”
Barbosa afirma que o evento natural extremo acabou ampliado pelo que define como “ciclo hidrológico”.
“Está cada vez mais intenso e, quando falo do ciclo hidrológico, estou falando de chuvas em excesso ou de seca. Isso é o potencial de como as mudanças climáticas estão interferindo nos eventos extremos”, detalha.
Plantação próximo ao centro da vila, atrás de casas atingidas pelas enchentes
Fábio Tito/g1
O prefeito de Venâncio Aires, Jarbas da Rosa (PDT), afirma que há regras rígidas para construção ou desmatamento em áreas de proteção ambiental. Isso impede tanto o poder público de construir equipamentos públicos quanto obras de moradores.
“Nos últimos 20 anos, o Ministério Público Ambiental regional do Vale do Taquari cobra que não haja mais construções novas em áreas de APP (Áreas de Preservação Permanente) junto ao rio Taquari. E isso vem se respeitando. Inclusive, aqueles que constroem inadvertidamente são responsabilizados judicialmente. Município também. Essa é uma responsabilidade muito grande”, afirma o prefeito.
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