Banheiro e escada são o que restam de casa depois de enchentes no RS


Camila Cristiane Dill e familiares tentam retomar vida na Vila Mariante, em Venâncio Aires (RS), devastada pelo desastre em maio de 2024. Com medo de dnovas cheias do Rio Taquari, ela está dividida entre seguir ou abandonar a região. Estrutura que restou de banheiro na casa que era de Camila
Fábio Tito/g1
A estrutura do banheiro de alvenaria e a escada da entrada são as únicas coisas que restaram da casa da avó de Camila Cristiane Dill da Silva, de 31 anos, moradora da Vila Mariante, em Venâncio Aires (RS), após as enchentes históricas de maio de 2024.
O g1 esteve em Mariante logo após as enchentes atingirem a região, mostrou os impactos das inundações e o sofrimento das pessoas atingidas pela tragédia (relembre aqui). Sete meses depois, série de reportagens mostra a realidade da vila, dividida entre a destruição o desafio de um novo recomeço.
Quem entra no terreno sem saber das chuvas não imagina que ali existia uma casa. A privada acima de uma estrutura de alvenaria e a escada, onde Camila e as filhas se sentam para uma foto tirada pela reportagem são as estruturas que resistiram à força da água do rio Taquari, que subiu mais de 30 metros na região.
Camila e as duas filhas
Fábio Tito/g1
Camila vive um dilema. Ela voltou à vila em agosto com o marido, Rafael da Silva, suas crianças (Valentina Rafaella, de 7 anos, e Maria Luisa, de 3 anos) e seus pais, Izabel Cristina e Helio de Azeredo.
A volta não é definitiva e não depende só dela: sua mãe quer ficar na vila, já que o pai estava acamado com câncer em estado avançado — no dia 1º de dezembro, um dia após a entrevista ao g1, o pai de Camila morreu.
“Eu me inscrevi nas casas novas, mas minha mãe não quer sair. Então, eu estou dividida”, conta. “Se a casa for na Estância [outro bairro da cidade] ainda é perto para me locomover com ela. Se ganhar ali, eu aceito. Só que eles falaram em dar terreno em troca, mas eu não tenho como dar nada em troca. Não sei se terei direito”, diz.
Mesmo após limpeza, o terreno em que mora segue marcado pela enchente: há pedaços de madeira espalhados pelo chão, a estrutura do banheiro sem a casa — que foi levada pela chuva — e até um micro-ondas junto de uma bicicleta.
Camila voltou a viver em Mariante também por conta das filhas. A mais velha, de 9 anos, sofreu bullying das crianças que viviam na área urbana e esse foi um dos motivos que a fez voltar para a vila rural.
“Cada um tem sua história aqui. Eu acredito que quem perdeu a sua casa, é muito difícil construir de novo. Quem tem, não abandona. É um lugar muito tranquilo, todo mundo se respeita, não tem criminalidade”, diz, apontando para as duas meninas.
A prefeitura de Venâncio Aires afirmou que realizou mutirão para a limpeza das casas e ruas da Vila Mariante e que mantém ações neste sentido. Segundo o prefeito Jarbas da Rosa (PDT), a entrega das mais de 200 casas em construção para os moradores atingidos deve ser feita até novembro de 2025.
Ao g1, o governo do Rio Grande do Sul, administrado por Eduardo Leite (PSDB), afirmou que promoveu ações na região de Venâncio Aires “desde os primeiros dias da enchente”, com repasses que somam R$ 7,9 milhões em recursos para a cidade, entre benefícios sociais às famílias, apoio a empresas locais, reformas de hospitais, unidades de saúde, de educação e infraestrutura.
O governo federal, gerido por Lula (PT) afirmou que destinou até o dia 13 de dezembro mais de R$ 200 milhões em recursos para Venâncio Aires (RS), entre valores para o cuidado com as pessoas, apoio às empresas e medidas gerais para o município.
O governo Lula estima em R$ 58,5 bilhões o total de verbas destinadas para a reconstrução do Rio Grande do Sul após as enchentes de maio.
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