Na decisão que reduziu o ritmo de cortes da taxa básica de juros para 0,25 ponto porcentual, todos os diretores que foram indicados pelo governo Lula votaram por uma redução maior

Na decisão que reduziu o ritmo de cortes da Selic para 0,25 ponto porcentual, todos os diretores que foram indicados pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva votaram por uma redução maior, de 0,5 ponto porcentual, como vinha sendo praticado pelo BC até então.

“Se há concordância sobre o diagnóstico, e é um diagnóstico ruim, por que no final das contas escolheram votar por 0,5? E aí a gente vai ter de esperar para ver se tem alguma justificativa, se é uma questão pontual ou se tem um desacordo mais profundo sobre o rumo da política monetária”, diz o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

* Como o sr. avalia a decisão do Copom e a divisão entre os diretores?

A decisão me pareceu adequada, mas a reação não está sendo boa. Quando eu digo que a decisão é adequada, o que está no comunicado – e aparentemente tem até um certo consenso dentro do comitê – é de que houve uma mudança considerável de cenário. Não só no que diz respeito ao cenário internacional, mas também no doméstico.

* Poderia detalhar essa mudança de cenário?

O cenário internacional é razoavelmente conhecido e ousaria dizer consensual. Tem uma inflação americana que está demorando mais para cair, o que implica numa mudança no que se imaginava que seria o início e a própria extensão do ciclo de redução de juros nos Estados Unidos. No começo do ano, dava-se de barato que começaria em março, depois, foi para junho e, agora, está ali para setembro – e sub judice. Vai depender muito de como vai se comportar o mercado de trabalho lá. O fato é que houve uma alteração grande. Estamos trabalhando com juros mais altos e um dólar mais forte globalmente e localmente. Isso tem algum impacto sobre a inflação.

* E o cenário local?

A mudança mais radical da visão do comitê diz respeito ao cenário doméstico. E em algumas dimensões. A primeira é sobre a atividade. Até março, o cenário que o Copom trabalhava era de alguma desaceleração da atividade econômica. Agora, o comentário que eles fazem é de que a atividade e o mercado de trabalho têm apresentado maior dinamismo do que o esperado. Tem uma visão de uma economia mais forte e, presumivelmente, é uma coisa que torna a queda da inflação mais lenta daqui para frente.

* Quais outras mudanças o sr. apontaria?

Tem uma segunda mudança importante sobre a questão fiscal. E foram bastante duras, no atual contexto, no que diz respeito às mudanças de política fiscal que resultam do envio do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) para 2025 e a sinalização para os anos seguintes. Houve uma redução geral da trajetória de resultados primários. Houve uma piora considerável das metas de resultado primário e todas as indicações são de que vai ser muito difícil cumprir a trajetória de gasto público que está embutida nas projeções da LDO. Mesmo com o gasto total crescendo no talo do que é permitido pelo arcabouço fiscal, o avanço do gasto obrigatório esmaga o gasto discricionário, inclusive em ano eleitoral. O que significa que, muito provavelmente, vão ter de abrir o bico no que diz respeito também à evolução dos gastos. O gasto deve superar os limites colocados pelo arcabouço fiscal.

* É esse contexto que ajuda a explicar o corte?

Não dava para manter (o ritmo de corte de juros). O cenário era diferente, e o BC sempre enfatizou a questão de que o compromisso com o corte de juros era condicional. As condições mudaram, e ele mudou o corte de juros. E mais: ainda lá para frente sinalizou que não tem compromisso com trajetória de juros, tem compromisso com a convergência da inflação.

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