‘Toda mãe usa a força que tem para salvar o filho’, diz mãe sobre resgate da família em Eldorado do Sul


Quando o resgate chegou na casa da família, socorrista informou Rute que não teria espaço para todo mundo no barco e ela pediu que um dos filhos fosse resgatado no seu lugar. Rute é mãe de Davi, de 14 anos, que tem o transtorno do espectro autista
Arquivo pessoal
Rute Mello, 41 anos, uma das muitas mães que foram vítimas das enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul, vai passar o Dia das Mães a salvo com a sua família após preferir salvar a vida dos filhos do que se salvar, em Eldorado do Sul, na Região Metropolitana de Porto Alegre. A família passou momentos de medo, teve fome, viu a água tomar a casa, foi resgatada e enfrentou correnteza na estrada para sair da cidade.
“Toda mãe usa a força que tem para salvar o filho”, diz Rute.
O Rio Grande do Sul enfrenta uma cheia histórica por causa dos temporais que atingem o estado desde 29 de abril.
Mais de 100 pessoas morreram e cerca de 408 mil estão fora de casa. Bairros inteiros estão debaixo de água, estradas estão bloqueadas e municípios registram falta de água e de luz. Os serviços públicos foram impactados.
No dia 1º de maio, quando o resgate chegou na casa da família, o socorrista informou Rute que não teria espaço para todo mundo no barco e pediu para escolher um dos filhos para ser resgatado. Para ela, só seria possível uma única resposta.
“Eu não tenho como escolher um dos filhos. Se não puder me levar, eu fico”, sustentou
Rute tem dois filhos: Valentina, 10 anos, e Davi, 14 anos, que é uma pessoa com o transtorno do espectro autista.
Desde o nascimento de Davi, Rute dedica a sua vida para dar a atenção que o filho mais velho exige.
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Enquanto a água subia entre as paredes da casa, alcançando uma altura de 1,8 metro, “quase alcançando o segundo piso”, Rute foi tocada pela convicção de Davi de que a família seria salva.
“Ele estava me tranquilizando e dizia ‘nós vamos conseguir sair daqui'”, conta emocionada.
Os bombeiros enfrentam dificuldade para resgatar todas as vítimas que estão ilhadas em diversas regiões do estado. Neste caso, toda a família conseguiu ser resgatada.
“Meu esposo colocou a Valentina no ombro e entramos no barco”, recorda Rute.
A família de Rute ficou ilhada em Eldorado do Sul. Ela está no barco com os dois filhos. O esposo, de boné, está tirando a foto.
Arquivo pessoal
A cidade de Eldorado do Sul, que tem 38 mil habitantes, foi inundada pela cheia do Rio Jacuí. Postos de gasolina, casas e lojas estão debaixo d’água. A prefeitura registrou, pelo menos, 600 pedidos de resgate.
Segundo a mãe, Davi era apegado aos animais — dois cachorros e quatro filhotes — que não conseguiram ser resgatados em Eldorado. Para confortar o coração do filho, a família adotou um cachorro, que também foi vítima da enchente.
Davi adotou um cachorro, também vítima da enchente.
Arquivo pessoal
Hoje, a família está abrigada na Zona Sul da capital, morando em casa de parentes. Rute diz sentir alívio por estarem todos a salvo: “O Dia das Mães vai ser cheio de emoção porque o Davi e a Valentina não me perderam, eu não perdi eles e eu vou poder abraçar a minha mãe”.
Rute afirma que, quando a família estava na estrada rumo a Porto Alegre, todos estavam “há muito tempo sem comer”.
“Eu achei um pacote de bolacha no carro e dei para os meus filhos. Eu disse ‘quero que vocês comam’ porque mãe deixa de se alimentar pelo filho”, relembra.
Para ela, esse é apenas um exemplo do tamanho do amor de uma mãe: “Amor de mãe é amor de universo, porque o universo é infinito”.
Por enquanto, Rute não sabe como vai reconstruir a vida da família, mas afirma que a prioridade no momento é a segurança dos filhos.
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