Sustentabilidade na moda: o que está mudando nas grandes marcas?

O setor da moda é um dos mais impactantes quando se trata de emissões de carbono, desperdício de recursos e poluição. Segundo a ONU, a indústria da moda é responsável por cerca de 10% das emissões globais de gases de efeito estufa e consome mais água do que qualquer outro setor industrial, além da agricultura. Diante desse cenário alarmante, a pressão para que marcas adotem práticas mais sustentáveis tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, tanto por parte de consumidores mais conscientes quanto por órgãos reguladores.

O que está mudando?

Empresas como Gucci, Adidas, H&M e Stella McCartney estão entre as líderes dessa transformação. Essas marcas têm se comprometido a implementar metas de sustentabilidade que incluem o uso de materiais reciclados, a eliminação de plásticos de uso único e a redução das emissões de carbono em suas cadeias de produção.

Gucci, por exemplo, lançou recentemente uma coleção feita com couro sintético e se comprometeu a neutralizar suas emissões de carbono, investindo em projetos de reflorestamento e conservação. Adidas anunciou que até 2025 a maioria dos seus produtos será feita com poliéster reciclado, e a H&M, que há muito tempo é criticada pelo modelo de fast fashion, prometeu uma cadeia de produção totalmente circular até 2030, além de investir em pesquisas para desenvolvimento de tecidos sustentáveis, como o “vegan leather” e o uso de algodão orgânico.

Além disso, marcas mais recentes, como Patagonia e Allbirds, já nasceram com a proposta de sustentabilidade no seu DNA, adotando a transparência em suas cadeias de suprimentos e priorizando práticas éticas em todas as etapas de produção.

Sustentabilidade real ou “greenwashing”?

Embora essas iniciativas sejam louváveis, muitos críticos apontam para o greenwashing, uma prática em que empresas fazem alegações exageradas ou enganosas sobre a sustentabilidade de seus produtos para atrair consumidores conscientes. A preocupação é que algumas dessas promessas não passam de jogadas de marketing, sem mudanças reais e estruturais nos modelos de negócios das marcas.

Um exemplo é o modelo de fast fashion adotado por gigantes como H&M e Zara, que se baseia na produção rápida e em massa de peças de roupa, incentivando o consumo desenfreado. Embora essas empresas tenham lançado linhas de roupas “eco-friendly” ou coleções que utilizam materiais reciclados, o fato de continuarem produzindo grandes volumes de peças a preços baixos contribui para o problema do desperdício e da superprodução.

A produção em larga escala faz com que roupas sejam descartadas com rapidez, alimentando os aterros sanitários e criando um ciclo de consumo insustentável. De acordo com a Ellen MacArthur Foundation, mais de 85% das roupas produzidas acabam em aterros ou incineradas, sem contar o impacto das microfibras plásticas que são liberadas durante as lavagens de tecidos sintéticos.

A responsabilidade dos consumidores

Embora as grandes marcas tenham uma enorme responsabilidade no impacto ambiental da moda, o comportamento dos consumidores também é um fator chave nessa equação. O aumento da demanda por produtos baratos e a compra por impulso impulsionam o fast fashion e dificultam a transição para um modelo mais sustentável. Para que a moda sustentável realmente decole, será necessária uma mudança de mentalidade que incentive o consumo consciente, priorizando qualidade em vez de quantidade e buscando peças duráveis que não sejam descartadas após uma única estação.

Essa mudança de atitude já pode ser vista em movimentos como o slow fashion, que promove a produção de roupas com materiais ecológicos, feitos para durar, e práticas justas para os trabalhadores. O crescimento de brechós e plataformas de revenda de roupas, como a ThredUp e a Depop, também é um reflexo da busca por uma moda mais circular, onde as roupas ganham uma segunda vida em vez de irem para o lixo.

Os desafios ainda são grandes

Apesar dos esforços, ainda há muitos desafios a serem enfrentados. Um dos principais obstáculos é o custo: muitas vezes, roupas produzidas de forma ética e sustentável são mais caras devido ao uso de materiais ecológicos e à necessidade de pagar salários justos aos trabalhadores. Isso faz com que marcas sustentáveis sejam inacessíveis para muitos consumidores, perpetuando o ciclo de consumo de roupas baratas.

Além disso, a falta de regulamentação global sobre práticas sustentáveis na indústria da moda torna difícil medir o real impacto das mudanças que estão sendo feitas. Existem poucas padronizações e certificações obrigatórias que possam garantir que uma marca está realmente seguindo práticas sustentáveis em toda a sua cadeia de produção.

O que o futuro reserva para a moda sustentável?

Para que a moda sustentável atinja todo o seu potencial, é necessário que haja uma mudança coletiva que envolva tanto as marcas quanto os consumidores e os governos. As marcas precisam ser mais transparentes e comprometidas com suas promessas, os consumidores precisam questionar suas próprias escolhas e adotar hábitos de compra mais conscientes, e os governos precisam criar legislações mais rígidas que obriguem as empresas a seguir práticas ambientalmente responsáveis.

O futuro da moda sustentável é promissor, mas ainda está longe de ser uma realidade universal. As grandes marcas já começaram a dar os primeiros passos, mas a questão central permanece: essas mudanças são suficientes para enfrentar os desafios ambientais globais? A resposta pode estar na capacidade da indústria e dos consumidores de reconhecer a urgência da situação e agir de forma rápida e eficaz.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.