‘Ele se mostrava um anjo bom, mas ele era um monstro’, diz mãe de enfermeira morta no RS sobre médico companheiro da vítima


Familiares realizaram protesto na manhã deste sábado (2) pedindo Justiça. Médico Andre Lorscheitter Baptista é suspeito de matar a companheira com medicação de uso restrito. Mãe da enfermeira Patricia Rosa dos Santos pede justiça
Reprodução/RBS TV
Cerca de 300 amigos e familiares da enfermeira Patricia Rosa dos Santos se reuniram na manhã deste sábado (2) em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, para pedir justiça. O companheiro da vítima, o médico Andre Lorscheitter Baptista, é suspeito de matá-la com medicações de uso hospitalar.
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O protesto, que ocorreu em Canoas, no bairro Marechal Rondon, mobilizou os manifestantes até a delegacia. Emocionada, a mãe da enfermeira, Mareci Rosa dos Santos, disse estar perplexa com a postura do genro, a partir das informações divulgadas Polícia Civil.
“Tem que mostrar para esse mundo como ele se mostrava para a minha família. Ele se mostrava um anjo bom, mas ele era um monstro”, diz a mãe.
O companheiro foi preso preventivamente na última terça-feira (29) e segue detido.
Ao g1, a defesa do médico disse, em nota, que o suspeito “declara ser absolutamente inocente de todas as graves imputações”. Também alega que a morte da vítima “foi uma tragédia, mas jamais um crime de homicídio” (leia a íntegra abaixo).
Samu relatou falta de medicamento
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Porto Alegre identificou a falta de um frasco de Midazolam na troca do plantão do médico em 21 de outubro – um dia antes da morte da companheira.
O sedativo foi um dos medicamentos encontrados em uma mochila dentro do carro do suspeito, segundo a Polícia Civil. Entre eles estavam Zolpidem, Midazolam e Succitrat, os dois últimos de uso restrito (confira abaixo para que servem). Também foram encontradas gaze, agulhas e outros insumos médicos.
Segundo o delegado responsável pelo caso, Arthur Hermes Reguse, o suspeito teria usado o Midazolam para fazer a vítima dormir e não sentir dor. Já o Succitrat, para matá-la, já que o remédio exige ventilação imediata.
Mantida prisão de médico suspeito de matar a mulher em Canoas
Para a Polícia Civil, ainda não está claro o que teria motivado o caso. A investigação trata a morte da enfermeira, ocorrida em 22 de outubro, como feminicídio.
O caso
A Polícia Civil afirma que no dia da morte, por volta das 8h, o médico ligou para os familiares da esposa comunicando a morte dela. Quando os parentes chegaram na residência do casal, o suspeito apresentou um atestado de outro médico do Samu, que informava como causa da morte infarto agudo no miocárdio. Os familiares desconfiaram da versão, comunicando a polícia.
O médico disse que a esposa havia dormido no sofá do imóvel após comer sorvete, mas ela foi encontrada morta em outro cômodo da casa. Após perícia na sobremesa, foi encontrado Zolpidem no pote, que a investigação indica que foi usado para fazer a vítima dormir.
Segundo o delegado, o investigado é uma “pessoa fria, desconexa e com dificuldade de se expressar”.
“Ele não tinha comportamento de uma pessoa que havia recém perdido a esposa, também constatamos que o local do crime estava com uma organização diferente da que ele havia descrito. Ele não soube explicar a razão de ter a medicação em casa. Além disso, ele é médico emergencista do Samu, mas não teria realizado manobras cardiorrespiratórias para salvá-la, ainda que tenha conseguido um laudo de outro médico apontando a causa da morte como natural, por infarto agudo no miocárdio”, conta o delegado.
Patricia Rosa dos Santos morreu, em Canoas, após aplicação de medicamentos
Arquivo pessoal
Investigação
Ao longo da investigação, um episódio entre o casal chamou a atenção das autoridades: ele já teria dopado a esposa anteriormente, mas com o objetivo de forçar um aborto. A manobra não deu certo.
“Patricia teve o filho, que nasceu saudável e hoje tem 2 anos. Ele dopou ela administrando uma medicação e inseriu instrumentos médicos no interior do útero com o objetivo de causar o aborto”, conta Reguse.
Segundo familiares dela, não haveria histórico de violência entre os dois além desse caso. Não há informações a respeito de um possível desacerto entre os dois, como um término do relacionamento, também. A Polícia Civil segue investigando a ocorrência.
Delegado Arthur Hermes Reguse durante coletiva de imprensa em Canoas
Reprodução/RBS TV
Remédios
O Midazolam é um medicamento sedativo e indutor do sono destinado a pacientes adultos. Já o Succitrat é um relaxante muscular em anestesia de curta duração.
Indicado para tratamentos com o prazo máximo de quatro semanas, o Zolpidem age no sistema nervoso central e induz o sono em menos de 30 minutos.
O aumento do número de relatos de uso irregular e abusivo relacionados ao Zolpidem fez com que o medicamento ganhasse uma nova classificação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Desde agosto, a disponibilização só é permitida mediante prescrição médica do tipo azul, de controle mais rigoroso que a tarja vermelha (como eram comercializadas as caixas com doses de 5mg e 10 mg até então).
Médico é preso em Canoas por suspeita de matar a companheira com medicamentos
Reprodução/RBS TV
Nota da defesa do suspeito
“Em atenção à imprensa e à sociedade, e considerando a veiculação de notícias imprecisas e especulações sobre a morte de Patrícia Rosa dos Santos, Andre Lorscheitter Baptista, por meio de sua defesa técnica, representada pelo advogado Luiz Felipe Mallmann de Magalhães, declara ser absolutamente inocente de todas as graves imputações que estão sendo feitas. Além disso, assegura que o que ocorreu com Patrícia Rosa dos Santos foi uma tragédia, mas jamais um crime de homicídio.
Percebe-se que houve precipitação nas declarações veiculadas pelos órgãos competentes, visto que os fatos relacionados à morte da senhora Patrícia Rosa dos Santos ainda não foram devidamente esclarecidos. Qualquer especulação que presuma a culpabilidade do investigado, sem as provas necessárias, viola o princípio constitucional da presunção de inocência, além de acarretar sérios prejuízos à imagem do investigado e de sua família, que jamais poderão ser revertidos.
Esses são os esclarecimentos que a defesa técnica de Andre Lorscheitter Baptista considera necessários no momento.”
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