Prefeito de Porto Alegre diz que obras contra enchentes devem ser lideradas pelo governo federal e reclama: “Promessas não foram cumpridas”

Prefeito de Porto Alegre durante a maior catástrofe ambiental da história do Rio Grande do Sul, Sebastião Melo foi reeleito para o cargo com votação maior que a obtida em 2020. Em entrevista ao jornal “O Globo”, ele defendeu que as obras de proteção contra enchentes devem ser lideradas pelo governo federal e reclamou que as promessas de recursos para preparar a cidade para o futuro ainda não foram cumpridas.

Na esfera eleitoral, o chefe do Executivo municipal é favorável a uma candidatura própria de seu partido, o MDB, à Presidência de República em 2026. Melo também avaliou que a esquerda perdeu o voto dos cidadãos mais pobres, além de errar na estratégia de campanha, centrada em críticas agressivas à atual gestão da capital gaúcha, incluindo o uso de expressões pejorativas como “chinelão” ao se referir ao então candidato.

“Em todo o País, o eleitor reconduziu prefeitos que sabem ouvir e enfrentam problemas com transparência. Minhas adversárias [Maria do Rosário, do PT, e Juliana Brizola, do PDT] passaram do limite ao concentrar o debate nas enchentes”, sublinhou.

Ele acrescentou: “Foi um volume de água tão grande que o sistema não suportou, e isso aconteceria com qualquer um no meu lugar. Mas a população me viu atuando para salvar vidas e reconstruir a cidade, a maior prova disso é que ganhei também nas áreas alagadas. O PT governou a cidade por 16 anos e nada fez”.

Confira, a seguir, as principais declarações do emedebista ao repórter Bernardo Mello, do periódico carioca. Na pauta, questões-chave também sobre os rumos de seu segundo mandado à frente da prefeitura porto-alegrense, a partir de janeiro.

Dinheiro ainda não chegou

– “O governo federal anunciou recursos para obras que preparem a cidade para o futuro, mas o dinheiro ainda não chegou. Além de erros na execução, os diques, muros e comportas existentes foram concebidos com base em marcos anteriores de cheias, abaixo dos 5,37 metros que o rio Guaíba atingiu neste ano”.

– “Sempre defendi que as obras de proteção contra cheias deveriam ser lideradas pelo governo federal. Não tem saída para um novo sistema sem as parcerias federal e estadual, porque eu, como prefeito, não posso fazer um dique em Canoas ou São Leopoldo”.

Petismo X guinada à direita

Questionado se concorda com uma suposta guinada à direita por parte do eleitorado após quadro gestões consecutivas do PT (1989-2005), Melo respondeu que sua análise não é ideológica.

– “Acho que a cidade fez uma opção por pautas. Vendemos a Carris, e fizemos uma mudança no sistema para manter a passagem de ônibus em R$ 4,80 por três anos (…). Fiz questão de dizer às pessoas como resolvi os problemas até agora, sem entrar nisso de “sou da direita”.

Cenário eleitoral para 2026

– “Não sei se o presidente Lula será candidato e não sei se o presidente Bolsonaro conseguirá se tornar elegível. Podemos ter Lula contra outro candidato de direita ou uma eleição sem Lula e Bolsonaro. O MDB sulista é de centro-direita, já no Norte e Nordeste é lulista. Temos o dever de encontrar um caminho que nos proteja da divisão. Apoiar Lula ou Bolsonaro nos divide.

– “Acho que Simone Tebet [candidata presidencial em 2022 e atual ministra do Planejamento] é uma líder, mas ao ir para o governo de Lula talvez tenha ‘queimado capital’. Vamos ver se é possível uma candidatura própria. Não é porque enfrentei a Maria do Rosário, mas seria incoerente o MDB apoiar o PT, pois não acredito nesse projeto de Estado maior, aumento de Bolsa Família… Respeito quem pensa diferente, enquanto no lado de lá falam coisas como ‘Melo chinelão’. Isso não é democracia. O PT ficou com questões identitárias e foi perdendo o voto dos mais pobres”.

– “Se Lula e Bolsonaro forem candidatos, a grande renovação de quadros será em 2030. Romeu Zema, Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado [governadores de Minas Gerais, São Paulo e Goiás, respectivamente] e o próprio Eduardo Leite são líderes que surgiram e têm meu respeito”.

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