Áudio sobre quadro de Lula ser “gravíssimo” é de perfil que posta conteúdos inventados

Um post viral engana ao dizer que o estado de saúde de Lula é “gravíssimo”. O conteúdo traz um áudio em que um homem, que seria um médico do Hospital Sírio-Libanês, onde o petista está internado, faz declarações como “Até quando eu vou ficar falando que está tudo bem com o presidente? Estou cansado de passar vergonha alheia. Eu não tenho nem o que falar pros colegas de profissão” e “Eu não sei a quem interessa ficar passando que o quadro clínico dele é leve”.

A publicação foi feita por um perfil que afirma publicar “fantasias, sátiras, comédia, sem base na realidade”, mas foi compartilhada por diversas outras páginas como se fosse real. Segundo o conteúdo, o autor do áudio é um médico do Sírio, mas, contatado pelo Comprova, o hospital afirmou não ter conhecimento da gravação e enviou os boletins com atualização do quadro de Lula.

Segundo um deles, divulgado na manhã dessa sexta-feira (13), o presidente “segue lúcido e orientado, alimentou-se normalmente e realizou caminhada pelos corredores”. Ele saiu da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) para cuidados semi-intensivos. Em seu perfil oficial em redes como Instagram e X (antigo Twitter), Lula publicou vídeo caminhando nos corredores do hospital.

Também ao Comprova, a Secretaria de Comunicação (Secom) do governo federal mencionou o boletim médico e afirmou ser “evidente que o conteúdo é falso”. “A previsão de alta é no início da próxima semana”, disse o órgão.

A pedido da reportagem, o neurocirurgião Wuilker Knoner Campos, presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, analisou o áudio e explicou que vários termos citados na gravação sequer são adotados na neurocirurgia. Conforme o médico, existem duas formas de se fazer qualquer procedimento intracraniano, como drenar um hematoma, por exemplo: a trepanação e a craniotomia.

Na primeira, é feito um pequeno orifício, do tamanho de uma moeda de um real, e para drenar o hematoma é colocado um cateter. Já a craniotomia abre uma uma janela óssea maior, que pode variar do tamanho de uma medalha olímpica à metade do crânio, a depender do tamanho da lesão que precisa ser tratada.

No caso de Lula, segundo os boletins médicos divulgados, foi realizada a trepanação, ou seja, um pequeno orifício para drenar o sangue coagulado que estava aprisionado e comprimindo o cérebro, o que é chamado de hematoma subdural crônico. O médico destaca que essa é uma patologia muito frequente na neurocirurgia e, na maioria das vezes, simples de se resolver.

O presidente ainda foi submetido a outro procedimento, a embolização de uma artéria. De acordo com o neurocirurgião, aqui é feito um cateterismo, via artéria femoral, para depositar uma cola que vai fechar uma artéria. “É uma artéria que fica mais externa no cérebro, na capa do cérebro, e quando você fecha essa artéria, você impede que novos sangramentos aconteçam. Então, foi uma cirurgia preventiva para não ressangrar”, explicou.

Knoner Campos informa que a maior parte dos pacientes que passa por esses procedimentos não chega ao estado grave. “A grande maioria do hematoma subdural crônico, que é o problema do presidente Lula, é de pacientes que revertem o déficit que chegou. Normalmente, há uma paralisia de um lado, uma fraqueza, uma dor de cabeça, uma tontura, uma desorientação, mas quando drena, faz uma trepanação, normalmente no dia seguinte já recupera tudo”, disse.

Ele finaliza dizendo que isso explica porque o presidente já está bem, no quarto e comendo, conforme os boletins médicos divulgados. “É uma minoria que fica grave e não há, necessariamente, sequela. A maioria melhora no pós-operatório de hematoma subdural crônico.” (Estadão Conteúdo)

 

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