Pequeno manifesto por uma maneira de conviver com o tempo e não apenas sobreviver a ele

Sempre tive dificuldade de compreender esse fracionamento do tempo que nos aprisiona a esperança, sequestra a força, condiciona os sonhos e inevitavelmente joga em nossa cara a dura realidade da finitude. Impossível não lembrar o texto de Roberto Pompeu de Toledo, em que fala sobre alguém que dividiu o tempo em fatias e assim industrializou a esperança. 

Sim, a ideia de “ano novo” é como o ciclo de uma linha de produção. Num chão de fábrica sem salário, sem direitos, sem descanso. Mas como a vida é construída coletivamente e a comunidade acata a ideia dos anos, me dou por vencido como extrema minoria que sou/estou.

Mas reafirmo: não é por ser derrotado no conceito que acatarei em silêncio. Venha 2025, cá estou para te olhar de frente, sem titubear. Te recebo de faca nos dentes, pronto para pelejar. E ao contrário do que você espera de mim nesta gaiola de 365 dias, saiba que cada instante será de desobediência.

Vou viver o instante, buscando o caminho livre onde a esperança é um passarinho que voa pelo céu, a força é uma raiz que cresce com rebeldia rompendo as pedras, os sonhos são energia em estado puro prontos para se converter em uma explosão de luz e, finalmente, a finitude é uma parceira de dança que vai bailar comigo as canções preferidas.

Dane-se você e seus conceitos, ano novo. Bem vindo seja tu, novo dia, e a sagrada alforria que nos traz a cada nascer do sol.

* Marcos Antonio Corbari é jornalista e comunicador popular vinculado ao Instituto Cultural Padre Josimo (ICPJ), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Rede Soberania e Brasil de Fato RS.

** Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.


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