Favorito, Alcolumbre terá que lidar com crise das emendas e polarização de PT e PL na volta à presidência do Senado

Nome de consenso para comandar o Senado a partir de fevereiro, Davi Alcolumbre (União-AP) já é tratado pelos colegas como próximo presidente da Casa. Ao fechar uma ampla frente de partidos, ele inibiu adversários. O cenário, contudo, não aponta um caminho fácil após assumir a cadeira que já ocupou de 2019 a 2021.

No campo político, Alcolumbre terá que administrar o acirramento entre PT e PL até as próximas eleições. Já na arena institucional, será obrigado a lidar com a crise sobre emendas parlamentares envolvendo Congresso e Supremo Tribunal Federal (STF).

Um dos principais responsáveis pela alocação de verbas do orçamento secreto, derrubado pela Corte em dezembro de 2022, Alcolumbre agora terá que atuar em conjunto com o próximo presidente da Câmara, que tem o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) como favorito, para manter a influência do Congresso sobre as verbas públicas. A situação é especialmente delicada porque a Polícia Federal (PF) avança em investigações sobre o mau uso dos recursos.

Embora Alcolumbre não seja citado, a PF mirou recentemente um esquema de lavagem de dinheiro e corrupção envolvendo o pagamento das emendas em que os investigados são ligados à cúpula do União Brasil, partido do senador. Congressistas entendem que os desdobramentos podem gerar impacto relevante na já esgarçada relação entre Poderes.

Entre os pares, a situação de Alcolumbre é mais tranquila. Na sala esvaziada da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), em pleno fim do ano legislativo, o parlamentar já sinalizava o provável retorno ao cargo mais alto do Senado. Era a despedida após quatro anos no comando do colegiado.

“Tentei mais agradar do que desagradar, mas muitas vezes não conseguimos fazer tudo o que desejamos”, afirmou, em tom conciliador.

Equilíbrio entre forças 

Alcolumbre se consolidou como favorito ainda em novembro, mas terá de se equilibrar entre PT e PL, siglas antagônicas que o apoiam. Aliado de Bolsonaro no governo anterior, o senador aproximou-se de Lula nos últimos dois anos.

Com trânsito na oposição, ele tem, em paralelo, trajetória ligada à do líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP). Em Macapá (AP), a loja de autopeças da família Alcolumbre ficava quase na esquina da rua de Randolfe.

“Ele era o mais bonachão, chegava com as pessoas, abraçava, sempre brincalhão, como é hoje”, narra Randolfe.

Alcolumbre também tem se aproximado de Hugo Motta, mas aliados já preveem embates caso Motta queira imprimir o mesmo ritmo de Arthur Lira (PP-AL). Um dos principais desafios, para apoiadores da sua recondução ao comando do Congresso, será recuperar o protagonismo do Senado em relação à Câmara, tema que incomoda muitos colegas.

O jogo de cintura de Alcolumbre passa ainda pelo diálogo com ministros do STF, onde foi investigado em dois inquéritos que acabaram arquivados.

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