O que está por trás do aumento das catástrofes climáticas

Casos alarmantes de desastres climáticos não saem do noticiário mundial. Nos quatro cantos do mundo há sinais claros de mudanças na natureza, como as enchentes no Rio Grande do Sul, seca na Amazônia, inundações e ondas de calor na África, calor extremo na Ásia.

A Organização Meteorológica Mundial (OMM), ligada às Nações Unidas, alertou que, até agora, 2024 tem sido um ano particularmente ruim em termos de clima extremo, com secas, calor excessivo e inundações causando graves danos à saúde e aos meios de subsistência.

“Quase todas as regiões do mundo registraram eventos climáticos e meteorológicos extremos de diferentes naturezas”, afirma Álvaro Silva, especialista em clima da OMM.

E embora nem todos os eventos climáticos extremos possam ser atribuídos à mudança climática, eles estão se tornando mais frequentes e mais perigosos devido às emissões de gases de efeito estufa provenientes da queima de carvão, petróleo e gás.

No ano passado, o Hemisfério Norte teve o verão mais quente dos últimos dois mil anos e, globalmente, 2024 está a caminho de ser ainda mais quente. A mudança climática aumenta a evaporação das águas e coloca mais vapor de água na atmosfera. Isso causa chuvas mais intensas e enchentes em algumas áreas, e secas mais extremas em outras.

Temperaturas mais altas levam a ondas de calor mais frequentes. Esse fator somado a temperaturas oceânicas também mais altas causam estragos nos padrões climáticos globais, resultando em efeitos díspares em todo o planeta.

“Não é apenas sobre a frequência e a intensidade que se ouve falar, mas também sobre as mudanças no tempo e na duração desses extremos”, diz Silva.

“Não sabemos mais o que é normal no clima, porque vemos uma tendência crescente de eventos extremos.”

A influência da mudança climática é evidente quando se observam as tendências climáticas a longo prazo, mas só recentemente foi possível determinar seu papel em eventos climáticos específicos.

No Rio Grande do Sul, as piores enchentes da história do Estado deixaram, até o momento, mais de 150 mortos, sem contar os desaparecidos que são mais de 100. Ao todo, mais de 2 milhões de pessoas foram afetadas diretamente pela tragédia.

Cientistas já apontaram os efeitos da mudança climática, além do fenômeno climático El Niño, que aquece as águas do Oceano Pacífico nessa época do ano, para explicar as enchentes.

Um estudo publicado pelo grupo francês Laboratório de Ciências Climáticas e Ambientais (LSCE, na sigla em francês) concluiu que as fortes chuvas no Estado podem ser atribuídas principalmente à mudança climática causada pelo homem.

A World Weather Attribution (WWA) – uma iniciativa de cientistas que investiga em que medida a mudança climática desempenhou um papel nos recentes eventos climáticos extremos – está trabalhando em seu próprio estudo. Mas a líder da WWA, Friederike Otto, afirma que as enchentes anteriores no Brasil estavam claramente ligadas à mudança climática.

Somada ao clima, a vulnerabilidade também desempenha um papel muito importante nos danos causados pelas enchentes, com alguns engenheiros apontando a falta de preparação e problemas de infraestrutura na região.

 

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