Deportação em massa de imigrantes seria uma disrupção semelhante à da pandemia

Após centrar sua campanha eleitoral na crítica à imigração e à gestão do assunto pelo governo Biden, Donald Trump retorna à Casa Branca em 2025 prometendo fechar a fronteira e implementar um programa de deportação em massa. No entanto, pesquisas independentes projetam que tais políticas seriam desastrosas para a economia americana, potencialmente reduzindo o crescimento e o emprego nos próximos anos, uma vez que os imigrantes desempenharam papel crucial na recuperação econômica pós-pandemia.

O centro de estudos Peterson Institute for International Economics (PIIE) estima que a deportação de 1,3 milhão de imigrantes não autorizados hoje – como a promovida pelo presidente Dwight D. Eisenhower em 1956 – resultaria em uma redução de 1,2% do bolo total do PIB em relação a um cenário sem as deportações até 2028, e um aumento na alta dos preços, de 1,5%. Já a deportação de 8,3 milhões de pessoas – total estimado de trabalhadores imigrantes sem documentos nos EUA em 2022 – teria um impacto bem mais severo: de redução de 7,4% no bolo total do PIB nesse mesmo período, enquanto os preços subiriam 9,1%.

Sem contar os custos indiretos gerados pela contração da economia, especialistas calculam que os custos diretos de uma deportação de grande escala, incluindo a detenção e transporte de milhões de pessoas, poderiam chegar a centenas de bilhões de dólares. Um relatório da American Immigration Council revela que o custo de uma operação única de deportação em massa seria de total estimado de pelo menos US$ 315 bilhões.

“Os efeitos de uma deportação em massa sobre o PIB, o mercado de trabalho, as finanças públicas e a inflação são questões centrais que as pessoas precisam compreender”, afirma Michael Clemens, professor de economia na George Mason University especialista em migração. “O ponto essencial é que imigrantes, enquanto trabalhadores, são fatores de produção – ingredientes cruciais para o funcionamento de toda a economia. Eles estão diretamente ligados aos empregos, à geração de riqueza e ao bem-estar econômico de qualquer sociedade, especialmente no caso dos trabalhadores nativos.”

Em 2022, estimava-se que 11 milhões de imigrantes indocumentados viviam nos EUA, representando cerca de 3,3% da população total. Desse total, estima-se que cerca de 8,3 milhões estejam na força de trabalho, ou seja, 5% da força de trabalho do país.

Trump prometeu repetidamente realizar a “maior operação de deportação doméstica da história” para livrar os EUA dessas pessoas, que ele alega estarem “envenenando o sangue” do país. O vice- presidente eleito J.D. Vance também disse que todos os 11 milhões de imigrantes indocumentados devem se preparar para sair do país nos próximos anos.

Esse número pode aumentar em mais 2,7 milhões se o novo governo revogar vários tipos de proteção humanitária temporária existentes nos EUA. Além disso, milhões de residentes indocumentados vivem com filhos nascidos nos EUA ou com pessoas portadoras de green card que podem acabar deixando o país também.

“A descrição precisa da política de Trump é uma proposta de vasto confisco militar e deportação de milhões de cidadãos americanos, imigrantes autorizados e imigrantes não autorizados, todos juntos”, diz Clemens. “Isso porque o próprio presidente já esclareceu que os filhos cidadãos americanos de imigrantes não autorizados serão incluídos na deportação. Fica muito mais fácil começar a entender o quão disruptiva será essa política, quando você entende o que realmente é.”

A equipe de Trump vem minimizando as potenciais ramificações econômicas dessas deportações, afirmando que a deportação em massa seria acompanhada de uma redução nos custos para as famílias e fortaleceria a força de trabalho americana.

Mas alguns economistas estão menos convencidos de que Trump possa executar seus planos de imigração sem enfraquecer a força de trabalho e a economia americana. Se Trump realizar algo próximo do que prometeu, muitos especialistas antecipam preços mais altos em bens e serviços e possivelmente uma queda na oferta de empregos para trabalhadores americanos.

“O presidente eleito e seus porta-vozes declararam explicitamente que a deportação em massa será ‘celebrada’ pelos trabalhadores americanos, que supostamente teriam acesso a todo tipo de oportunidades de emprego que não existiriam sem essa política”, diz Clemens. “É semelhante a dizer que suco de limão cura o câncer.” (Com informações do Valor Econômico)

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