A destruição do conceito de arte andando a galope

Nos dias de hoje, o conceito de arte parece ter sofrido uma metamorfose alarmante, transformando-se em algo que se distancia da essência que a define.

A arte em sua forma mais pura deve ser a expressão criativa do ser humano, capaz de evocar emoções profundas e provocar reflexões significativas.

Decadência

Na contramão de tudo que acredito sobre arte, surgiu (além de outros movimentos) “A Bienal Internacional do Cabaré”, que teve sua segunda edição realizada em setembro de 2024, na cidade de Curitiba-PR, e ainda foi financiada com dinheiro público, onde foram gastos aproximadamente 150 mil reais em um festival, segundo os seus organizadores, “vibrante e inovador, que levanta sérias questões sobre o verdadeiro propósito da arte contemporânea”… Que propósito será esse?

Em 2024, a Bienal fez apresentações no Brasil (Curitiba), México e Argentina, prometendo explorar “o grotesco, a palhaçaria e o burlesco”. Fizeram toda uma campanha, vendendo todos esses conceitos, de uma forma lúdica e aparentemente encantadora para atrair o público para os eventos.

No entanto, essa abordagem parece mais uma tentativa de chocar do que uma verdadeira expressão artística. Ao afirmarem “buscar criar novas dramaturgias cômicas que valorizem o protagonismo, feminino e “LGBTQIAPN+”, esconde-se uma realidade preocupante: a banalização da arte em nome da provocação ideológica e política.

O que estamos testemunhando, na prática, é um mar de aberrações, em um espetáculo que representa apologia à homossexualidade e bissexualidade, disfarçada sob o manto de uma proposta artística lúdica e inclusiva.

A inclusão de apresentações voltadas para crianças com cavaleiros infantis ou mesmo a exposição de um homem adulto seminu, arrastando-se no asfalto próximo a uma escola em uma via pública, além de outras performances que enaltecem o satanismo, é um exemplo claro dessa distorção do conceito de arte.

Essa Bienal contou com uma série de apresentações, de rua e oficinas teatrais, todas com o mesmo tipo de abordagem. Em uma das peças chamada “Fim Del Mundo”, um homem chacoalha sua genitália para o público enquanto outro introduz um objeto cilíndrico e piscante em seu reto. Isso é a arte contemporânea que eles querem empurrar goela abaixo da sociedade?

Ao expor o público jovem, as performances que desafiam os limites do que consideramos ético e apropriado, corre-se o risco de confundir educação com exploração e libertinagem. A linha entre arte e provocação se torna cada vez mais tênue.

O uso de eufemismos para justificar a exploração do grotesco não é apenas uma afronta à verdadeira arte; é um convite ao deboche sobre questões profundas que merecem uma discussão mais respeitosa para ambas as partes.

A superficialidade dos espetáculos apresentados nos leva a questionar: “Estamos perdendo o sentido do verdadeiro significado artístico?”

Ou, então, estamos diante de um fenômeno cultural promovido por movimentos que buscam reconfigurar valores tradicionais em nome da inclusão e diversidade política e social?

Contudo, essa dinâmica caminha na contramão do que realmente é arte. A necessidade urgente de reavivar o debate sobre o papel da arte em nossa sociedade nunca foi tão evidente.

A verdadeira arte deve refletir as complexidades e belezas sutis da sociedade e da vida; não apenas servir como ferramenta para provocar, vender ideias vazias ou ideológicas tóxicas.

Precisamos resgatar o espaço sagrado da criatividade genuína, onde a profundidade e intenção possam florescer novamente, enriquecendo nossas vidas e fortalecendo nossa capacidade de conexão humana.

Devemos lembrar que a arte tem o poder de nos tocar profundamente, emocionar, influenciar, provocar e conectar diálogos significativos. É hora de questionar até onde estamos dispostos a ir para redefinir o conceito artístico.

A verdadeira expressão artística deve instigar reflexão crítica e crescimento pessoal; e não se limitar a excessos vazios e degenerativos.

Em tempos em que a cultura parece estar atrelada às ideologias contemporâneas promovidas por governos progressistas e ideológicos, é crucial manter nossa capacidade crítica afiada, ou corremos o risco de perdermos nossos valores mais preciosos.

Que possamos sempre buscar uma arte que nos eleve intelectualmente e emocionalmente, ao invés de permitir sermos empurrados para um abismo de superficialidades e degradação.

Entendam que não sou necessariamente contra esse tipo de exibição, particularmente acredito na liberdade de expressão de todos os grupos e gêneros, desde que sejam exibidos em locais apropriados para aqueles que compactuam ou apreciam as mesmas ideias.

Tudo aquilo que não me agrada, simplesmente evito ou me afasto, mas não desejo que me seja imposto.

Quanto a fazer uso de dinheiro público para algo tão decadente, explícito e degenerativo, é algo que me oponho totalmente, principalmente em locais públicos e abertos.

A arte pode enriquecer nossas almas, ser um espaço de liberdade de expressão, sem estar necessariamente atrelada a políticas de direita ou esquerda, mas também deve refletir os valores que consideramos essenciais para uma sociedade mais justa e saudável.

Fabio L. Borges, jornalista e cronista gaúcho

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