Futebol brasileiro: jogadores abrem guerra contra o uso de gramados sintéticos

Os gramados sintéticos entraram de vez na mira dos jogadores no futebol brasileiro. Em ação coordenada, eles iniciaram um movimento pelo fim do uso do piso artificial nos estádios do País. Neymar, Lucas Moura, Thiago Silva, os líderes, Gabigol, Dudu e Philippe Coutinho, entre outros, compartilharam textos nas redes sociais alegando preocupação e exigindo que os atletas sejam ouvidos sobre o tema.

A publicação dos jogadores foi acompanhada de uma imagem comparando um campo tradicional com um artificial. A frase “futebol é natural, não sintético” e a hashtag #NãoAoGramadoSintético reforçam o mote da campanha.

Os críticos alegam que os gramados sintéticos aumentam o risco de contusão, algo não comprovado cientificamente. Dudu, um dos participantes do movimento, sofreu grave lesão no joelho em 2023 no Allianz Parque, em lance em que seu pé ficou preso na grama. Ele jogava no Palmeiras, que implantou o piso artificial em 2020.

Além do Allianz, os principais estádios do País que têm gramado sintético são o Nilton Santos e a Ligga Arena, casas de Botafogo e AthleticoPR, respectivamente. Cada local usa um tipo diferente de material e todos têm o certificado de qualidade da Fifa. O Mercado Livre Arena Pacaembu, em São Paulo, também dispõe de campo sintético. O Atlético-MG está implantando na Arena MRV.

Os atletas, porém, colocam em xeque a qualidade do piso artificial. “Objetivamente, com tamanho e representatividade que tem o nosso futebol, isso não deveria nem ser uma opção. A solução para um gramado ruim é fazer um gramado bom, simples assim”, escreveram. “Nas ligas mais respeitadas do mundo os jogadores são ouvidos e investimentos são feitos para assegurar a qualidade do gramado. Trata-se de oferecer qualidade para quem joga e assiste.”

Para os atletas que se manifestaram, a medida de adotar apenas o gramado natural é essencial para o futebol brasileiro estar entre os principais do mundo. “Se o Brasil deseja definitivamente estar inserido como protagonista no mercado do futebol mundial, a primeira medida deveria ser exigir qualidade do piso que os atletas jogam e treinam”, finalizaram.

Neymar deixou claro à diretoria do Santos que não jogará em estádios com grama sintética. A decisão foi tomada com a intenção de preservar o atleta de possíveis lesões.

Sem comprovação

Não há, contudo, um consenso na área médica quanto à maior incidência de lesões em atletas em gramados artificiais quando comparados aos naturais.

Em 2023, a revista científica inglesa The Lancet analisou mais de mil estudos sobre o tema para concluir que não há uma correlação entre o sintético para o aumento de lesões. Segundo a publicação, a incidência de problemas físicos nos campos sintéticos é até menor quando comparado com os campos naturais – 14% inferior, em média.

“A incidência global de lesões no futebol é menor em grama artificial do que em natural. Com base nestas conclusões, o risco de lesões não pode ser usado como argumento contra a grama artificial quando se considera a superfície de jogo ideal para o futebol”, apontou o estudo.

No entanto, isso não significa que os atletas não corram riscos. “No gramado sintético, o pé dos atletas fica mais preso junto ao campo. Não há a mesma maleabilidade que em gramados naturais”, explicou, ao Estadão, Luiz Felipe Carvalho, ortopedista que já tratou lesões de Rodrigo Dourado e Ferreira. (Estadão Conteúdo)

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