Duas semanas depois, RS pode ter novas enchentes onde a água nem mesmo baixou

Homens conversam enquanto monitoram suas casas à distância com medo de roubos durante enchentes em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, 12 de maio de 2024. REUTERS/Amanda Perobelli

Menos de duas semanas depois de começarem as enchentes que assolaram o estado, o Rio Grande do Sul entrou novamente em alerta neste domingo (12), com o risco das águas voltarem subir antes mesmo de chegarem a baixar de fato.

Sob chuvas intensas desde sexta-feira, a região dos vales dos rios dos Sinos, Taquari, Caí e Jacuí – que fica a cerca de 100 km a oeste de Porto Alegre – já registram altas significativas, assim como o Guaíba, que banha a capital e estão acima da chamada cota de inundação em várias localidades.

O Guaíba, que recebe a água de toda a região dos vales, aumentou 8 cm entre a noite de sábado e a manhã de domingo. Em entrevista à rádio Gaúcha, o pesquisador Fernando Fan, do Instituto de Pesquisas Hidrológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, prevê que o lago possa ultrapassar os 5,35 m registrados na semana passado, recorde histórico de inundação da capital gaúcha, chegando a 5,50.

“Temos vários locais em que a chuva foi de quase 200 milómetros. Essa chuva está descendo pelos rios, já temos notícias de inundação em várias cidades. E essa água vai chegar ao Guaíba e a Porto Alegre.”

O coordenador-geral de Operações e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), Marcelo Seluchi, disse à Reuters que a situação não é nada animadora porque vai se voltar ao que ocorreu no início da semana passada. Segundo ele, há previsão de chuva bastante volumosa e intensa.

Seluchi afirmou ainda que, além da chuva, outro fator de preocupação são os ventos vindos do mar em sentido contrário ao escoamento das águas da região.

“O resultado de tudo isso é que tanto o Lago Guaíba quanto a própria Lagoa dos Patos muito provavelmente vão aumentar seu volume nos próximos dias”, destacou.

Novo alerta

No Vale do rio Taquari, onde os moradores tentavam voltar a suas casas, um novo alerta agora pede que as pessoas deixem as áreas de risco, no entorno do rio e nas partes mais altas, com perigo de deslizamento.

“Estamos removendo as pessoas das áreas de risco. Teremos outro evento de grande porte. Está chovendo desde ontem (sábado) nas cabeceiras dos rios, a projeção é que a alta chegue a 25 cm. Em setembro, a maior enchente que tivemos, foi a 26,13 cm”, disse à Reuters o prefeito de Muçum, Mateus Trojan (MDB).

No sábado, quando a Reuters esteve na cidade, moradores começavam a retirar a lama de dentro das moradias, onde a água chegou a cobrir casas de dois andares. No dia seguinte, a limpeza foi interrompida sob o risco da quarta enchente em sete meses.

O rio Taquari vem subindo mais de 30 centímetros por hora, de acordo com medições feitas pela prefeitura de Estrela, outra cidade da região. A prefeitura colocou alertas de evacuação em redes sociais e carros de som que passam na cidade.

A previsão é de que o rio suba a 29 metros em Estrela e na vizinha Lajeado, o que provocaria nova inundação nas duas cidades.

No sul do estado, a prefeitura de Pelotas ampliou as áreas de evacuação na cidade, que já está um terço coberta de água.

Debaixo de chuva, desabrigados olham com apreensão o repique de uma enchente que esperavam começar a ceder.

Acampados à beira da principal via de entrada de Porto Alegre, os vizinhos Fernando Ayres da Silva, 40 anos, Luciano Xavier dos Santos, 41 anos, e Vanderlei Porciúncula da Rosa olham com apreensão suas casas inundadas, separadas da avenida por um muro baixo.

Os três saíram com a roupa do corpo quando um dique rompeu e o bairro foi inundado, há uma semana. Preferiram ficar por perto para evitar os roubos na região, enquanto esposas e filhos foram para abrigos.

“Já está subindo de novo. Não foi muito, mas a gente notou. Porque estava baixando até rápido nos últimos dias, mas agora parou”, disse Fernando Ayres. “Só o que segurou essa água foi a estrada. Mas se subir mais eu não sei se não alaga até onde a gente está.”

Em Eldorado do Sul, na zona metropolitana de Porto Alegre, o agricultor João Almeida saiu do galpão onde estava abrigado para observar a água depois de dois dias de chuva. A inundação não voltou a ocupar sua propriedade, mas avançou cerca de um metro na área de estrada que já estava seca, avisou por telefone à mulher, Edith.

O Rio Grande do Sul sofre com chuvas avassaladoras desde o dia 29 de abril. As tempestades, deslizamentos de terras e enchentes já mataram 143 pessoas, desalojaram 538 mil e desabrigaram 81 mil, em 446 das 497 cidades do estado.

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