Rosário do Sul terá Centro de Referência do IFSul do campus de Santana do Livramento

Desde 2022, educadores, educandos e a população de Rosário do Sul se mobilizam para que a cidade tenha um campus do Instituto Federal. O município ficou de fora do anúncio, em março deste ano, dos 100 novos campi dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs). Contudo, um passo para a concretização desse ideal foi dado no dia 18 de dezembro. Em reunião pública, com o tema Rede Bioma Pampa, realizada na Câmara de Vereadores, foi anunciado a criação de um Centro de Referência do Instituto Federal Sul Rio Grandense (IFSul), ligado ao campus de Santana do Livramento, para 2025.

Na ocasião foi anunciado o investimento de R$ 1 milhão para o projeto, via emenda parlamentar da deputada federal Maria do Rosário (PT), articulada pelo professor rosariense Eliézer dos Santos Oliveira, docente de filosofia do IFSul campus Santana do Livramento e coordenador do grupo pró-campus Rosário do IFsul. 

A reunião contou com a presença do prefeito atual Vilmar Oliveira (PDT) e do prefeito eleito Marcos Paulo (PSDB), assim como vereadores, deputados estaduais, como Valdeci Oliveira, do chefe de gabinete da Maria do Rosário, Rodrigo Oliveira, o professor da Universidade Tecnológica do Uruguai (UTEC) Marcelo Ubal, entre outros. 

“Essa é uma conquista da mobilização popular rosariense. Todos que acompanham a história dos IFs são unânimes em dizer: ‘Nunca uma comunidade atuou tão fortemente para conquistar um campus do IF’. Esse desejo ardente por uma educação pública, gratuita, inclusiva, profissional, técnica, tecnológica e de qualidade é enorme, um sinal de esperança capaz de transformar vidas individuais e coletivas”, ressalta Oliveira. 

Conforme pontua o coordenador, o Centro é a porta de entrada para que o Campi possa se tornar realidade. “O Centro de Referência é um puxadinho de outro campus. É o que no passado se chamava campus avançado. Santana do Livramento começou sendo um campus avançado em Bagé, que depois se tornou um campus autônomo. No geral, centros de referências são uma espécie de pré-Campus. É o que nós vamos ter em Rosário nesse momento.”

Em 2026 o Rio Grande do Sul vai receber cinco novas unidades, que se somarão às atuais 44 integradas à Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Os campi previstos para Santa Maria, Rosário do Sul, Cachoeira do Sul, entre outros, deverão ser confirmados na segunda fase da expansão dos IFs.

“A cidade de Rosário do Sul foi a que mais se organizou e articulou para buscar a conquista do anúncio da implantação de um campus de Instituto Federal, nesta nova fase de expansão dos Institutos pelo país a fora. Foi, e está sendo ainda, uma mobilização fantástica, que de várias formas busca esta conquista”, afirma o reitor do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), Flávio Nunes. 

De acordo com o reitor, o IFSul vem articulando com o município, com o Ministério da Educação, com as representações políticas, uma forma de adiantar da melhor forma possível a chegada de um campus. “Neste sentido chegamos a possibilidade de implantação de um Centro de Referência, que não tem as mesmas características de um campus, mas que possibilita muitas ações e projetos junto a cidade de Rosário do Sul. Iremos agora trabalhar nestes projetos e colocá-los em prática, com o apoio das emendas da bancada gaúcha e do município de Rosário do Sul. Por outro lado a mobilização pela chegada de um campus efetivo deve continuar e estaremos juntos nesta busca.”

 

Luta pelo Campus

Localizado na região da Fronteira Oeste do estado, Rosário tem uma população de 36.630 habitantes. É onde nasceu o escritor e poeta Oliveira Silveira, criador do 20 de novembro. Em seus quase 150 anos de história, conta o coordenador do grupo pró-campus Rosário do IFsul, a cidade nunca teve campus acadêmico, quer público ou privado, ou instituto federal. Foi com esse objetivo que há dois anos um grupo de professores e alunos começou a se articular. 

“Eles começaram a fazer uma série de atividades que foram aos poucos envolvendo o prefeito municipal, os vereadores, os deputados, senadores, artistas. Foi angariando apoio político e crescendo. Foi uma luta popular do município, uma luta popular de bases. Das pessoas mais humildes, porque são essas, de fato, que são as mais prejudicadas pelo fato do município de Rosário não ter um campus. Quando o povo entendeu isso, abraçou a causa. Nós continuamos mobilizados, mesmo depois do anúncio dos 100 campis.” 

Para o professor, entre os pontos que se destacam da importância do campus está garantir uma educação pública gratuita de qualidade para os rosarienses, sobretudo para aqueles que não têm condições de sair do município. Como ajudar a desenvolver o município, freando o êxodo que se tem hoje em dia, entre outros.  

“A minha história de vida se confunde com a dos jovens que por falta de oportunidade não conseguem avançar nos estudos, minha família faz parte do grupo de pessoas contempladas com as políticas públicas, principalmente as cotas raciais. Nossa mobilização é pela conquista do primeiro campus presencial nos 150 anos de existência de nossa cidade”, afirma a educadora especial e também coordenadora do grupo pró-campus Rosário do IFsul, Roselei da Silva Witt.

Casada com o policial militar aposentado e técnico em meio ambiente José Luis Alves Witt, Roseli, de 52 anos, conseguiu sua graduação aos 32 anos, já com três filhas, que hoje são formadas em universidades públicas. “A conquista agora do Centro de Referência representa para nós a maior prova de que o campus virá, mesmo depois da decepção de ter ficado fora dos 100 primeiros campus anunciados, mesmo tendo feito a maior, mais bonita e mais reconhecida mobilização. Inclusive o presidente Lula se sensibilizou com nossa luta, quando ficamos fora já no mesmo momento iniciamos a campanha pelo Campus 101”, afirma.


José Luis e Roselei / Foto: Divulgação

Acesso a todos 

Liderança do Quilombo Rincão da Chirca, a pedagoga Mariglei Dias Lima, 49 anos, é a primeira de sua família a concluir o ensino superior, entre quatro irmãos. Mulher negra, mãe solo, de baixa renda, sua formação teve que ser feita na cidade de Alegrete, a 100 quilômetros de Rosário. “Eu conclui o ensino superior depois de adulta, depois dos meus 30 anos. Com muita dificuldade, com muita luta, eu consegui ter acesso ao ensino superior. Eu trabalhava e tinha que ir para a universidade de moto, em estrada de chão.”

Pós-graduada em educação do campo, pela Unipampa, Mariglei conta que a história voltou a se repetir com a sua filha, que teve que cursar o ensino médio no Instituto Federal em Alegrete. Conforme narra, o acesso do quilombo a Alegrete é mais fácil do que Rosário, por conta de dois arroios na região que em épocas de cheia inviabiliza a saída do território. Hoje sua filha está cursando medicina veterinária em Santa Maria. O quilombo está localizado na Área de Proteção Ambiental do Rio Ibirapuitã. 


Mariglei Dias Lima / Foto: Arquivo Pessoal

Apesar de estar feliz pelo Centro de Referência, e considerá-lo um passo importante para o município, assim como os outros entrevistados, a liderança quilombola luta para que a cidade tenha seu próprio Campus.

”O quanto isso vem trazer geração de renda para nosso município, diretamente ou indiretamente. O quanto isso movimenta e modifica a mentalidade dessas pessoas que começam a conviver com a instituição. Isso tem um ganho enorme para o município que acolhe uma instituição dessas de ensino. Nossa luta de termos um Instituto Federal em Rosário é para aquelas pessoas que não têm acesso, que moram na periferia, que não tem como pagar o transporte pra chegar até o centro da cidade, até a escola. (…) A gente sabe que um Instituto Federal sendo algo público, tem um ensino de qualidade, inclusivo. Abre outras portas, outras experiências. Outros mundos, outros caminhos.”


 Foto: Reprodução

“Todas as escolas são importantes, mas os institutos federais vão além de uma escola. Eles são institutos de ciência, educação e tecnologia, trabalham o desenvolvimento local. O projeto pedagógico dos institutos federais unifica trabalho e educação e, portanto, está vinculado a um projeto de desenvolvimento do território onde os institutos são colocados, mas também do país como um todo. É o projeto criado por excelência nos governos do presidente Lula e do campo da esquerda do Brasil”, ressalta a deputada federal Maria do Rosário. 


Centro de Referência foi viabilizado por meio de emenda parlamentar da deputada federal Maria do Rosário (PT) / Divulgação

Segundo ela, quando se conquista um Centro de Referência para Rosário do Sul está se investindo na comunidade. A parlamentar recorda que no período do golpe de 2016 e no governo anterior ficou parada a expansão dos IFs e que atualmente está sendo retomada com toda força.”

“Colocar emendas como no meu caso coloquei nos institutos federais mais esse ano e particularmente pra esse Centro de Referência em Rosário do Sul, significa destinar essas emendas que os parlamentares têm oportunidade para algo que está no projeto de desenvolvimento do presidente Lula, e nosso, do Brasil. Por isso a importância também de juntamos essa possibilidade das emendas com o que é importante para a comunidade. E realmente faz a diferença para a juventude, para todas as idades e para o desenvolvimento de Rosário do Sul, principalmente porque essa cidade foi, senão a que mais se mobilizou, uma das que mais que se mobilizou por essa conquista.”


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